sábado, 5 de novembro de 2016

Eu, a Família e a Igreja

Em 1998 em um acampamento, o então reitor do SETECEB*, rev. João Batista, disse em uma das suas pregações algo sobre os desafios da vocação pastoral. Creio -- faz muito tempo -- que baseado em Hebreus 12, ele levantou três grandes "inimigos" que SEMPRE nos atrapalham, seja os aspirantes ao sagrado ministério (eu na época), seja no próprio ministério pastoral: o Eu, a Família e a Igreja; na ocasião EU tinha certeza da minha vocação; minha FAMÍLIA (meus pais e irmãs eram -- e ainda são -- pessoas piedosas) e a minha IGREJA (na época ICE BETEL) compreendia bem o meu chamado.

Pois bem, dois anos depois eu comecei a me preparar formalmente para esse projeto de vida -- projeto que ainda desenvolvo, não sem lutas, mas sem dúvidas – e de início descobri que EU não sou capaz, que EU sou inadequado, seja pelas minhas idiossincrasias, pelas minhas incapacidades, ou pelos meus pecados. EU não sou a melhor escolha para esse ministério; havia homens e mulheres¹ muito melhores que eu em tudo o que fazíamos, e olha que o meu curso de teologia não era nada muito avançado! Minha FAMÍLIA, meio (bem pra mais do que pra menos) a contragosto, me apoiou, mas não sem antes tentar me dissuadir -- por isso os dois anos para começar os estudos; a IGREJA, bem essa é a mais interessante (como sempre); é verdade que a ICE Betel me apoiou; pagou parte dos meus custos. A maioria de seus membros sempre me tratou como seminarista e etc. (pelo que sou muito grato), mas por uma série de detalhes teológicos que já não veem ao caso, terminei o curso, e nunca foi conduzido ao estágio** (parte final da preparação ao ministério). Acabei tendo que deixar a denominação e ir para a IPB -- eu já era muito calvinista, não dava mais...

O interessante é que ainda vejo que esses três "inimigos" da minha vocação presentes e atuantes! Ainda luto com as fraquezas do meu EU (Rm 7), minha FAMÍLIA² (agora, esposa e dois filhos) é um peso (1Co 7, 26 a 28) e pesa muito! As demandas e responsabilidades da vida conjugal e da paternidade me comprimem e acabam por determinar algumas ações. Por fim tem a IGREJA, essa que é a noiva de Outro que eu tenho de cuidar como se fosse minha, mas sem esperar nenhum tipo de compensação (eu não me casarei com ela)! E mais, embora essa Noiva (da qual ironicamente eu, pastor, também faço parte) seja sem manchas, sem máculas, sem rugas, é também uma escola para reeducar filhos adotivos que estão mal (e mau) acostumados com as lições do orfanato do Diabo de onde foram resgatado, por isso mesmo alguns desses filhos de Deus ainda são tão diabólicos e se parecem tanto com o falso trigo, o joio semeado, sorrateiramente, pelo INIMIGO, nos campos do SENHOR.

Nunca me enganaram, o ministério pastoral é para homens, não meninos. Eu luto diariamente e esmurro meu corpo para que não seja reprovado naquilo que sempre condeno, por isso termino dizendo, quem almeja o episcopado bom trabalho deseja, mas àquele a quem mais é dado, mais será cobrado, não queiram muitos de vós serem líderes.
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* SETECEB - Seminário Teológico Cristão Evangélico do Brasil;
** Na verdade o pastor titular de então convidou outro seminarista (com mais afinidades teológicas) que nem era da igreja para o estágio, o que teoricamente atrasou minha formação em 6 meses, e depois em um ano e teria posto fim nesse etapa se eu não tivesse ido embora da ICEB;
¹ O fato de mulheres serem melhor exegeta do que eu, ou ter compreensão teológica apuradíssimas e traquejo pastoral (uma delas era além de mãe de três, pastora leiga em um igreja metodista já alguns anos) não serve de prova para a vocação pastoral feminina.
² Interessante como Deus faz as coisas, a FAMÍLIA que é um fardo dado a mim pelo próprio Deus, é a parte que mais me motiva, como sou grato a minha esposa que enfrenta corajosamente os desafios dessa vocação sempre ao meu lado. Ela jamais reclamou das mudanças, da baixa renda, das muitas horas em reunião, dos dias seguidos de ausências, das noites em claro por preocupação ou preparação