sábado, 15 de outubro de 2016

Sobre as Marcas da Verdadeira Igreja

Sobre as Marcas da Verdadeira Igreja

Há 3 marcas da verdadeira Igreja: A fiel exposição da Palavra; A correta administração dos Sacramentos; A Disciplina Eclesiástica!

É relativamente fácil ser um expositor das Escrituras. Por um processo meramente mental, pela aplicação da boa lógica no texto, se retira verdades, é quase mecânico -- não me tenha mal, é claro que o Espírito Santo é quem de fato faz a obra, mas a exposição das Escrituras pode, com certa facilidade, ser falsa; é sobre o que eu falo e não sobre o que eu faço; eu posso ser um hipócrita, e praticar o exato oposto do que afirmo nos sermões! Sim, fui ao absurdo para demostrar o ponto. É simples, o Texto é do Autor, e tem por intenção a comunicação, Ele é pai da Lógica, da compreensão, do entendimento, o que Ele diz é Reto, Certo, Justo e Bom. Meu trabalho como pregador é mais de desentulhar as mentes para que a Água Viva corra do que de alguma maneira purificar as torrentes das Águas.

A correta administração dos Sacramentos, começa pela compreensão de quantos e quais são esses sacramentos (diminui-los para ordenanças¹ num sentido menos glorioso, e ignorar que são também meio de graça, pois comunicam tanto aos participantes diretos, quanto aos que estão meramente presentes o Evangelho, é um erro terrível cometido frequentemente, que certamente desabona as igrejas hodiernas), e vai até a correta entrega ou prática -- o suporte teológico de cada detalhe da celebração -- bem como a recepção e lembrança piedosa deles, e no continuo e frequente ensino sobre o tema.

Esta correta administração, em certo sentido, também é fácil de fazer, tanto porque é pregação (exposição da Palavra também de outra forma), quanto é um ato público, celebrativo, belo e bom -- longe de ignorar a veracidade da pregação do martírio do Senhor, volto a dizer, não estou minimizando tais marcas. Afirmo apenas que também é algo, digamos, mais extrínseco; conseguiria faze-la sem o zelo correto, sem a devoção necessária, sem a piedade óbvia e talvez ninguém perceba nada; há aí também QUASE um "ex opere operato"².

Já a Disciplina Eclesiástica parece mesmo o inverso. Confesso, é certo que em muitas comunidades locais tal marca da verdadeira Igreja é abusivamente usada, ao ponto que essa marca se torne cicatriz, ferida aberta! Em vez de trazer ao arrependimento, torna ainda mais duro e odiosos o coração do faltosos – muitas vezes injustamente denunciado. Não por isso, entretanto, há que se ir pelo exato oposto; não aplicar disciplina é tanto desobedecer a Deus como negar sua Maravilhosa Graça a povo santo, porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe (Hb 12:6).

Então diferentemente das outras duas marcas que confessadamente afirmei certa facilidade em ‘demonstrar’, pois estas QUASE se operam sozinhas, a Disciplina Eclesiastica é necessariamente administrada pela Igreja. E isso não é algo fácil, não se formos verdadeira Igreja ao manifestar tal marca. Seja pelo caráter do Pai que estimula a santidade pelo açoite, seja pela perpetração da pena em nós por nós. E parece mesmo que é isso que Ele quer. Pois antes de imaginarmos que a justeza do ato trás a Justiça de fato, há aí tipificado um dom do Alto:

Poderia ilustrar o ponto defendido (não é meu expediente comum, mas serve bem ao caso) com um pitoresco e bom exemplo próprio:

Certa vez meu pai ao me corrigir mandou que eu mesmo fosse buscar uma vara na árvore de amoras na casa do vizinho, suas orientações específicas foram para que eu escolhesse a melhor vara, para que com ela ele me disciplinasse, sob pena da castigo ainda maior... de fato o ensino, a admoestação, a reflexão, o arrependimento e o conforto (lógico, posterior!) ocorreram enquanto ia buscar o instrumento da minha (justa) tortura, martírio físico – que nem mesmo ocorreu!

A verdade é que cada golpe que a Igreja é chamada a administrar sobre os fieis, corta também o lombo daqueles que são instrumento dessa apenação (penalização). E como aquele menino que caminhava para escolher a vara que seria usada para corrigi-lo, que a cada passo em direção da árvore (que também produz frutos que sangram – que ilustração da Graça!) vai se tornando um homem, volta feliz para o castigo físico, já curado e fortalecido pela repreenda, assim também a Igreja, a noiva de Cristo, e tornada santa, perfeita e sem mácula, não pela dor da corrigenda de um de seus membros, nem mesmo pelo golpe dado em si mesma, mas por se lembrar, no ato da disciplina, disciplina aplicada em si por si mesma, que Alguém suportou o Castigo que nos trás a Paz, e ele fez isso voluntariamente.

Não não é fácil disciplinar alguém, não é bom golpear o outro, pois cada vergão que sobe, sobe em meus lombos, e mais que isso, tal sinal é espelhamento do Martírio de Cristo.
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¹ Não falo de semântica, sacramentos são obviamente ordenanças do Senhor, mas não são só mandamentos como também são os 10 de Ex 20, os sacramentos além de terem sido dados pelo próprio Cristo e serem a mudança de regime (o que aponta perfeitamente para a Graça em Cristo), Lei e Evangelho, Sacrifícios sangrentos para Sacrifícios vivos, são comunicação aos 5 sentidos de quem é e o que fez o Salvador pelo seu povo.

² "Opera pela operação", diz-se, na teologia, daquilo que tem poder em si mesmo, opera (eficiência) pela mera operação (prática, realização) independente da fé do ministro e/ou ministrado; no sentido afirmado nesse artigo, digo que tanto a pregação quanto a ceia e o batismo tem em si certo poder (eficiência), pois são a Palavra exposta em cada um desses Sacramentos, ela sempre faz (opera) aquilo que por Ele foi determinado (Is 55;11), nem sempre entretanto, os Sacramentos serão meios de graça, pois àqueles que participam sem entendimento segue-se juízo (Mt 7, 24 a 27 e I Co 11;27 a 30).