segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Quem é neo-puritano aqui?

Esse texto começou como uma simples resposta a uma “acusação” recente de neo-puritanismo. Ocorre, como sempre, que as letras voaram e a curta resposta se tornou esse artigo. Segue então, na flutuação das ideias apresentadas, o que penso de ser chamado puritano ou neo-puritano.
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O prefixo “neo”, do grego “νεος, νεα, νεον”, é um elemento de composição, significa novo. Aparece em termos como neologismo: palavras novas ou novas acepções e usos de uma palavra consagrada; artifício importantíssimo na língua portuguesa, com ela adaptamos (aportuguesamos) e assimilamos termos estrangeiros e de áreas diversas propondo novos usos. Outros exemplos comuns, são o neoclássico[1], neoliberal[2], neodarwinismo[3].

Usualmente se adiciona "neo" para afirmar certas continuidades e algumas inovações a um conceito, sem que seja essencialmente outro conceito. Na teologia temos esse uso, por exemplo: 

Pentecostal e neopentecostal: há distinções e progressos de um para outro, mas há muitas similaridades entre os dois conceitos, as vezes é até difícil classificar uma igreja (ou doutrina) como pentecostal ou neopentecostal;

Calvinismo e neocalvinismo: não confundir com novocalvinismo (newcalvinism) – movimento mais ligado ao fenômeno midiático do M. Driscoll[4] – Neocalvinismo “é o nome comumente usado para se referir ao movimento originado na Holanda, nos séculos 19 e 20, sob a liderança de Abraham Kuyper, cuja proposta básica era aplicar os princípios do calvinismo ao relacionamento do cristão e da igreja com a sociedade e a cultura de sua época”[5].

Ortodoxia e neortodoxia:
esse último, movimento teológico que floresceu na Europa (particularmente na Alemanha) da década de 1920 (caso interessante, talvez haja mais distinções que similaridades com o conceito de que deriva); o termo tenta ser de algum modo ‘bondoso’ com aqueles que abandonaram o fracassado liberalismo teológico e caminharam em direção da fé bíblica. Certamente o mais famoso expoente da neortodoxia é Karl Barth.

Dito isso, o que seria o Neo-Puritanismo?


Obviamente devemos caracterizar primeiro, PURITANISMO: Puritanismo foi um movimento de renovação espiritual na Inglaterra no século XVII, de confissão calvinista, que rejeitava tanto a Igreja Romana como o ritualismo e organização episcopal na Igreja Anglicana. Abrangente, repensou todos os aspectos da vida, inclusive a política, coisas que rendeu perseguições, forçando, por exemplo, John Winthrop (1588 a 1649; advogado e colonizador inglês) a levar o primeiro grande grupo de puritanos até a baía de Massachusetts (Estados Unidos, então colônia britânica). 

Toda essa situação chega ao seu ápice quando o Rei Carlos I, tentou impor o anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses, inclusive com ameaça de cadeias. Carlos I tenta com a eleição de um parlamento mais favorável a si, vencer a demanda, mas os ingleses elegeram um parlamento puritano, que foi prontamente dissolvido; com nova eleição, os puritanos tornaram-se ainda mais expressivos nas casas parlamentares; a persistência do rei em manter a obrigação da uniformidade anglicana, leva-o a uma guerra civil, que perdida resulta em sua condenação, por traição, à pena de morte, cumprida em 1649.

Passando ao largo de outros detalhes históricos, é nesse contexto da revolução puritana que acontece a Assembleia de Westminster; concílio convocado pelo parlamento, entre 1643 e 1649, para reestruturar a Igreja da Inglaterra. Constituída por cerca de 120 dos mais capazes teólogos da Inglaterra, 20 membros da Casa dos Comuns e 10 membros da Casa dos Lordes; todos os teólogos eram ministros da Igreja da Inglaterra e quase todos eram calvinistas. Houve participações de correspondentes escoceses. Produzindo, entre outros documentos, o Catecismo Maior, o Breve Catecismo e a Confissão de Fé de Westminster (nossos – IPB – símbolos de fé), que foi adotada como a confissão de fé distintamente presbiteriana.

Esta assembleia se caracterizou tanto pela erudição teológica, quanto pela profunda espiritualidade. Algo notável foi registrado pelo Rev. Robert Baillie[6]: “(...)num dia desses de jejum e culto houve quem orasse duas horas, sermões de uma hora entrecortados por orações de uma hora, por cântico de salmos ou orações de quase duas horas.”

Tudo isso serve para demonstrar quem de fato eram os puritanos. Parte da sociedade inglesa do sec. XVII e XVIII – sinceros e profundos conhecedores da fé cristã, bíblicos, interdenominacional (haviam batistas e congregacionais com essa mesma inclinação confessional), anti-romanistas, indiscutivelmente fieis e abnegados, dispostos até morrer pelo que acreditavam ser a correta interpretação da Palavra de Deus.

E neo-puritano? 
Seguindo a lógica, neo-puritano seria quem mantém grande parte do pensamento teológico distintivo dos puritanos? Quem busca a piedade em todas as áreas da sua vida, marca daquela geração? Quem tenta viver a fé puritana mesmo que com algumas alterações? ...até quem estando errado em suas concepções anteriores, ao reconhecer suas falhas, caminha em direção ao certo (nesse caso tendo o paradigma inquestionável desses grandes homens de Deus) bem poderia ser chamado de neo-puritano? 

De qualquer modo que avaliarmos, todo o membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, que seja coerente em sua devoção e piedade, sincero e submisso à Palavra, que busca viver de acordo com a declaração teológica sistêmica institucionalmente reconhecida (confissão de fé pública); aquele, em especial os oficiais (presbíteros e diáconos), que juraram em sua ordenação defenderem os símbolos de fé[7] – documentos puritanos! – devem (ou deveriam) ser identificado como neo-puritano e até se orgulhar disso! 

E mais, visto que todos os presbiterianos de verdade são, de algum modo, neo (novos, atuais, agora) puritanos – razões expostas acima – interna corpore, o termo é vazio de outro significado; não passa de um sinônimo de puritano do novo mundo[8], um tanto desmedido – confesso – afinal nem há grandes mudanças teológicas assim entre o presbiterianismo do séc. XVII e o professado oficialmente na IPB, para tornar-se uma vertente doutrinária notável.

No final a pergunta que deve ser feita não é quem são os neo-puritanos ou o que eles pensam. O questionamento sincero – e aqui falando especialmente como pastor presbiteriano aos membros da IPB – é: realmente você é um presbiteriano? Em outras palavras: você conhece, e por isso subscreve, os símbolos da fé presbiteriana? 

Se não, conheça-os aqui, gratuitamente: http://www.ipb.org.br/recursos

Se sim, parabéns, há provas suficientes que você é um NEO-PURITANO!


Das trincheiras 
Esli Soares
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[1] Diz-se do movimento artístico inspirado nos ideais e modelos do Classicismo greco-romano, e também Renascistas, tendências mais clássicas do Barroco francês.
[2] Doutrina econômica voltada para a adaptação dos princípios do liberalismo clássico às exigências do Estado atual. Tem variantes significativas, desimportante para o artigo.
[3] Complementação da teoria de Darwin, reconhece como principais fatores evolutivos a mutação, a recombinação gênica e a seleção natural. E a fórmula vigente do que pode ser chamado evolucionismo.
[4] Há outros nomes, como John Piper, Albert Mohaler, Matt Chandler, Mark Dever, C. J. Mahaney, Joshua Harris, homens de Deus que têm contribuído muito com a fé cristã.
[5] Lima, Leandro A. de. O futuro do calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 71-72 (citado).
[6] Kerr, Guilherme, A Assembléia de Westminster, E. F. BEDA – EDITOR, São Paulo, SP, Brasil 1984.
[7] Confissão de Fé de Westminster, Catecismo Maior e Breve Catecismo.
[8] Referência ao continente americano.

Para saber mais sobre os puritano e a CFW, acesse: http://www.mackenzie.br/7121.html

Para saber mais sobre a Igreja Presbiteriana do Brasil, acesse: http://www.ipb.org.br/

sábado, 3 de setembro de 2016

4 simples razões para batizarmos crianças:

1) A obviedade: Parece certo insistir que nos tempos do Novo Testamento, as crianças simplesmente eram batizadas. É bastante plausível que boa parte (se não a maioria) das famílias que aceitavam a nova fé, e por isso se batizavam, tinham crianças que eram também introduzidas no cristianismo pelo batismo. Assim é razoável pensar que quando o Texto Sagrado disse que alguém foi batizado juntamente com toda a sua casa, ali se batizaram crianças também.

2) A antiguidade: É tão possível que nos tempos apostólicos se praticava o batismo infantil que registros dos primeiros séculos do cristianismo tratam disso:
ORIGENES (185 – 254) disse, “A Igreja recebeu dos Apóstolos o costume de administrar o batismo até mesmo para crianças”.
HIPÓLITO (? - 235) afirma “...e si batizarão as crianças em primeiro lugar. Todos os que puderem falar por si mesmos, falarão. Enquanto aos que não podem, seus pais falarão por eles ou alguém de sua família. Se batizará em seguida os homens e finalmente as mulheres...”;
CRISÓSTOMO (347 - 407) “batizamos também as crianças de pouca idade”;
AGOSTINHO (354 – 430) “desde a circuncisão, que era então o sinal da justificação pela fé, tinha valor também para as crianças, pelo mesmo motivo o batismo desde o momento que foi instituído. (com alterações)”
              Interessante o mais antigo registro contra o batismo de infantes parece ser do herege Pelágio no século V.

3) A continuidade
: Se no antigo modo da Aliança, a circuncisão era símbolo do povo de Deus, que devia ser aplicado, sem demora e sem estorvo, a todo o macho (no 8º dia; Lv 12;3), por que agora o batismo nas águas tendo o mesmo sentido, mas ampliado pela largura da Graça em Cristo, deve ser atrasado? Se os filhos dos cristãos, são também parte do povo de Deus, por que negar-lhes o símbolo? Se a promessa é para a família, que faria a fé obediente, além de batizar o infante?

4) A objetividade: Em Mt 28;18 a 20, quando o mestre passa a Grande Comissão, inequivocamente afirma a necessidade do sacramento do batismo. Daí segue-se que devem ser batizados todos os que estão sendo ensinados a obedecer tudo o que Cristo ensinou, sendo feitos assim discípulos (literalmente cumprir o ide...) Se os filhos dos cristãos devem ser ensinados na disciplina do Senhor (Ef 6;4), logo devem ser batizados!

Conclusão: 
O Batismo Cristão não é para a salvação, nem para o perdão de pecados, nem mesmo de arrependimento. Segundo Jesus (Mt 28:19 e 20), o 'batismo, com água, no Nome Tríplice' é marca inicial dos que aderem a Fé Cristã. E para tal, não há referência a quantidade de água e nem a origem ou local dessa água, ou percentual do corpo que deve ser molhado. Bem como não há idade mínima ou máxima para receber o selo (batismo). Nem mesmo a quantidade assimilada dos ensinos de Jesus (poucos ou muitos) é apontada como qualificante! A REGRA dada por Jesus é simples: Feito discípulo, isso é, sendo ensinado a obedecer TUDO o que Cristo mandou, fez e ensinou, este deve receber a marca de iniciação cristã (Batismo nas águas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). SIMPLES ASSIM, tenha fé, OBEDEÇA!
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A citação dos ‘Pais da Igreja’ (ponto 2) foi retirada de diversas pesquisas, inclusive via internet, mas confirmada sobre tudo, nas afirmações similares de F. Turretini (Compêndio de Teologia Apologética, 3, XIX, 7, pág. 508,) e de H. Bavinck (Dogmática Reformada, 4, 10, pág. 503).