quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

CARTA ABERTA

Sobre a saída da equipe pastoral da 1ª IPPVH

Sim, estamos deixando a Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho. As diferenças existentes com parte do Conselho, quer de opiniões, quer de alvos e métodos para a condução da igreja inviabilizaram a caminhada conjunta, pelo que, com tristeza – mas resolutos – a partir de 1 de dezembro de 2016, nós, rev. Ewerton Tokashiki, rev. Rogério Bernini Jr. e rev. Esli Soares entregamos a direção pastoral dessa amada igreja.

Ao longo dos últimos 4 anos a distância entre as cosmosvisões foi traduzindo-se em distanciamento pessoal. Inúmeras foram as tentativas de clarificar que nossa postura é, nada mais que o pensamento cristão, reflexo bíblico. Bem assim, a forma de apresentar este pensamento para a igreja, a saber a exposição bíblica, a única maneira instruída na Palavra – a qual estamos inegociavelmente presos – não surtiram o efeito desejado na mente e no coração de alguns, pelo contrário, acirraram os ânimos, o que dificultou a tomada de decisões nos mais diversos assuntos. Assim, aquilo que eram rixas ideológicas tornaram-se ataques pessoais, impossibilitando, por fim, o convívio harmonioso do Corpo de Cristo.

Mesmo diante das inequívocas demonstrações de nosso apego a Palavra, aos símbolos de Fé, à doutrina reformada, aos ideais de nossos pais puritanos, às decisões conciliares – muitas vezes contra as nossas próprias paixões – lamentavelmente, muitos optaram por apenas manter amizades, estruturas, praxe e ideias – não poucas vezes – irrefletidamente obtusas e contrárias as Santas Escrituras. De tal forma que, certamente, nossos esforços para dirigir a Primeira Igreja rumo a suprema vocação se dirimiram, não nos restando outra opção além da saída.

Sabemos que tal decisão abala emocionalmente a todos, e gera ansiedade, pela erradamente presumida insegurança, seja em nossos familiares, seja na comunidade eclesiástica com a ausência desses pastores. Entretanto, cremos que Deus, o SENHOR, está na direção de cada passo, e Ele tem o melhor para cada um de nós, pois Ele mesmo é o Senhor da Igreja. Não obstante, é importante ressaltar – seja para acalmar alguns, seja para calar outros – temos nossos planos diante do Senhor: Não estamos deixando nem o ministério pastoral e nem a Igreja Presbiteriana do Brasil. Ewerton pediu a antecipação do fim de seu vínculo pastoral com a igreja local e em 2017 estará em ano sabático, finalizando alguns projetos pessoais, e se preparando para o mestrado, provavelmente fora do país; Rogério Bernini Jr. está à disposição do presbitério e em tratativas para um novo campo já em 2017; Esli Soares foi eleito para os 3 próximos anos como pastor na Igreja Presbiteriana Filadélfia em Boa Vista - RR.

Diante de nossa não permanência, parte da membresia resolveu também buscar outros ares, e fez pedido formal de demissão do rol de membros da Primeira Igreja de Porto Velho, seu futuro só é incerto para nós que temos a visão limitada. Conquanto fieis ao SENHOR e a Sua Santa Palavra, certamente estão sob cuidados do Bom Pastor direcionados à Cidade Santa, caminho excelente, e por eles rogamos a Deus as mais ricas bênçãos.

Solicitamos a todos que evitem a disseminação de boatos, mentiras ou meias-verdades, que os piedosos orem por todos os envolvidos, e que reservem o julgamento ao Supremo Juiz que tudo vê e sem corrupção decide soberana e bondosamente em favor dos seus.

Que a paz de Cristo seja o vínculo que nos une.

Ewerton B. Tokashiki
Rogerio Bernini Junior
Esli Soares

sábado, 5 de novembro de 2016

Eu, a Família e a Igreja

Em 1998 em um acampamento, o então reitor do SETECEB*, rev. João Batista, disse em uma das suas pregações algo sobre os desafios da vocação pastoral. Creio -- faz muito tempo -- que baseado em Hebreus 12, ele levantou três grandes "inimigos" que SEMPRE nos atrapalham, seja os aspirantes ao sagrado ministério (eu na época), seja no próprio ministério pastoral: o Eu, a Família e a Igreja; na ocasião EU tinha certeza da minha vocação; minha FAMÍLIA (meus pais e irmãs eram -- e ainda são -- pessoas piedosas) e a minha IGREJA (na época ICE BETEL) compreendia bem o meu chamado.

Pois bem, dois anos depois eu comecei a me preparar formalmente para esse projeto de vida -- projeto que ainda desenvolvo, não sem lutas, mas sem dúvidas – e de início descobri que EU não sou capaz, que EU sou inadequado, seja pelas minhas idiossincrasias, pelas minhas incapacidades, ou pelos meus pecados. EU não sou a melhor escolha para esse ministério; havia homens e mulheres¹ muito melhores que eu em tudo o que fazíamos, e olha que o meu curso de teologia não era nada muito avançado! Minha FAMÍLIA, meio (bem pra mais do que pra menos) a contragosto, me apoiou, mas não sem antes tentar me dissuadir -- por isso os dois anos para começar os estudos; a IGREJA, bem essa é a mais interessante (como sempre); é verdade que a ICE Betel me apoiou; pagou parte dos meus custos. A maioria de seus membros sempre me tratou como seminarista e etc. (pelo que sou muito grato), mas por uma série de detalhes teológicos que já não veem ao caso, terminei o curso, e nunca foi conduzido ao estágio** (parte final da preparação ao ministério). Acabei tendo que deixar a denominação e ir para a IPB -- eu já era muito calvinista, não dava mais...

O interessante é que ainda vejo que esses três "inimigos" da minha vocação presentes e atuantes! Ainda luto com as fraquezas do meu EU (Rm 7), minha FAMÍLIA² (agora, esposa e dois filhos) é um peso (1Co 7, 26 a 28) e pesa muito! As demandas e responsabilidades da vida conjugal e da paternidade me comprimem e acabam por determinar algumas ações. Por fim tem a IGREJA, essa que é a noiva de Outro que eu tenho de cuidar como se fosse minha, mas sem esperar nenhum tipo de compensação (eu não me casarei com ela)! E mais, embora essa Noiva (da qual ironicamente eu, pastor, também faço parte) seja sem manchas, sem máculas, sem rugas, é também uma escola para reeducar filhos adotivos que estão mal (e mau) acostumados com as lições do orfanato do Diabo de onde foram resgatado, por isso mesmo alguns desses filhos de Deus ainda são tão diabólicos e se parecem tanto com o falso trigo, o joio semeado, sorrateiramente, pelo INIMIGO, nos campos do SENHOR.

Nunca me enganaram, o ministério pastoral é para homens, não meninos. Eu luto diariamente e esmurro meu corpo para que não seja reprovado naquilo que sempre condeno, por isso termino dizendo, quem almeja o episcopado bom trabalho deseja, mas àquele a quem mais é dado, mais será cobrado, não queiram muitos de vós serem líderes.
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* SETECEB - Seminário Teológico Cristão Evangélico do Brasil;
** Na verdade o pastor titular de então convidou outro seminarista (com mais afinidades teológicas) que nem era da igreja para o estágio, o que teoricamente atrasou minha formação em 6 meses, e depois em um ano e teria posto fim nesse etapa se eu não tivesse ido embora da ICEB;
¹ O fato de mulheres serem melhor exegeta do que eu, ou ter compreensão teológica apuradíssimas e traquejo pastoral (uma delas era além de mãe de três, pastora leiga em um igreja metodista já alguns anos) não serve de prova para a vocação pastoral feminina.
² Interessante como Deus faz as coisas, a FAMÍLIA que é um fardo dado a mim pelo próprio Deus, é a parte que mais me motiva, como sou grato a minha esposa que enfrenta corajosamente os desafios dessa vocação sempre ao meu lado. Ela jamais reclamou das mudanças, da baixa renda, das muitas horas em reunião, dos dias seguidos de ausências, das noites em claro por preocupação ou preparação

sábado, 15 de outubro de 2016

Sobre as Marcas da Verdadeira Igreja

Sobre as Marcas da Verdadeira Igreja

Há 3 marcas da verdadeira Igreja: A fiel exposição da Palavra; A correta administração dos Sacramentos; A Disciplina Eclesiástica!

É relativamente fácil ser um expositor das Escrituras. Por um processo meramente mental, pela aplicação da boa lógica no texto, se retira verdades, é quase mecânico -- não me tenha mal, é claro que o Espírito Santo é quem de fato faz a obra, mas a exposição das Escrituras pode, com certa facilidade, ser falsa; é sobre o que eu falo e não sobre o que eu faço; eu posso ser um hipócrita, e praticar o exato oposto do que afirmo nos sermões! Sim, fui ao absurdo para demostrar o ponto. É simples, o Texto é do Autor, e tem por intenção a comunicação, Ele é pai da Lógica, da compreensão, do entendimento, o que Ele diz é Reto, Certo, Justo e Bom. Meu trabalho como pregador é mais de desentulhar as mentes para que a Água Viva corra do que de alguma maneira purificar as torrentes das Águas.

A correta administração dos Sacramentos, começa pela compreensão de quantos e quais são esses sacramentos (diminui-los para ordenanças¹ num sentido menos glorioso, e ignorar que são também meio de graça, pois comunicam tanto aos participantes diretos, quanto aos que estão meramente presentes o Evangelho, é um erro terrível cometido frequentemente, que certamente desabona as igrejas hodiernas), e vai até a correta entrega ou prática -- o suporte teológico de cada detalhe da celebração -- bem como a recepção e lembrança piedosa deles, e no continuo e frequente ensino sobre o tema.

Esta correta administração, em certo sentido, também é fácil de fazer, tanto porque é pregação (exposição da Palavra também de outra forma), quanto é um ato público, celebrativo, belo e bom -- longe de ignorar a veracidade da pregação do martírio do Senhor, volto a dizer, não estou minimizando tais marcas. Afirmo apenas que também é algo, digamos, mais extrínseco; conseguiria faze-la sem o zelo correto, sem a devoção necessária, sem a piedade óbvia e talvez ninguém perceba nada; há aí também QUASE um "ex opere operato"².

Já a Disciplina Eclesiástica parece mesmo o inverso. Confesso, é certo que em muitas comunidades locais tal marca da verdadeira Igreja é abusivamente usada, ao ponto que essa marca se torne cicatriz, ferida aberta! Em vez de trazer ao arrependimento, torna ainda mais duro e odiosos o coração do faltosos – muitas vezes injustamente denunciado. Não por isso, entretanto, há que se ir pelo exato oposto; não aplicar disciplina é tanto desobedecer a Deus como negar sua Maravilhosa Graça a povo santo, porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe (Hb 12:6).

Então diferentemente das outras duas marcas que confessadamente afirmei certa facilidade em ‘demonstrar’, pois estas QUASE se operam sozinhas, a Disciplina Eclesiastica é necessariamente administrada pela Igreja. E isso não é algo fácil, não se formos verdadeira Igreja ao manifestar tal marca. Seja pelo caráter do Pai que estimula a santidade pelo açoite, seja pela perpetração da pena em nós por nós. E parece mesmo que é isso que Ele quer. Pois antes de imaginarmos que a justeza do ato trás a Justiça de fato, há aí tipificado um dom do Alto:

Poderia ilustrar o ponto defendido (não é meu expediente comum, mas serve bem ao caso) com um pitoresco e bom exemplo próprio:

Certa vez meu pai ao me corrigir mandou que eu mesmo fosse buscar uma vara na árvore de amoras na casa do vizinho, suas orientações específicas foram para que eu escolhesse a melhor vara, para que com ela ele me disciplinasse, sob pena da castigo ainda maior... de fato o ensino, a admoestação, a reflexão, o arrependimento e o conforto (lógico, posterior!) ocorreram enquanto ia buscar o instrumento da minha (justa) tortura, martírio físico – que nem mesmo ocorreu!

A verdade é que cada golpe que a Igreja é chamada a administrar sobre os fieis, corta também o lombo daqueles que são instrumento dessa apenação (penalização). E como aquele menino que caminhava para escolher a vara que seria usada para corrigi-lo, que a cada passo em direção da árvore (que também produz frutos que sangram – que ilustração da Graça!) vai se tornando um homem, volta feliz para o castigo físico, já curado e fortalecido pela repreenda, assim também a Igreja, a noiva de Cristo, e tornada santa, perfeita e sem mácula, não pela dor da corrigenda de um de seus membros, nem mesmo pelo golpe dado em si mesma, mas por se lembrar, no ato da disciplina, disciplina aplicada em si por si mesma, que Alguém suportou o Castigo que nos trás a Paz, e ele fez isso voluntariamente.

Não não é fácil disciplinar alguém, não é bom golpear o outro, pois cada vergão que sobe, sobe em meus lombos, e mais que isso, tal sinal é espelhamento do Martírio de Cristo.
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¹ Não falo de semântica, sacramentos são obviamente ordenanças do Senhor, mas não são só mandamentos como também são os 10 de Ex 20, os sacramentos além de terem sido dados pelo próprio Cristo e serem a mudança de regime (o que aponta perfeitamente para a Graça em Cristo), Lei e Evangelho, Sacrifícios sangrentos para Sacrifícios vivos, são comunicação aos 5 sentidos de quem é e o que fez o Salvador pelo seu povo.

² "Opera pela operação", diz-se, na teologia, daquilo que tem poder em si mesmo, opera (eficiência) pela mera operação (prática, realização) independente da fé do ministro e/ou ministrado; no sentido afirmado nesse artigo, digo que tanto a pregação quanto a ceia e o batismo tem em si certo poder (eficiência), pois são a Palavra exposta em cada um desses Sacramentos, ela sempre faz (opera) aquilo que por Ele foi determinado (Is 55;11), nem sempre entretanto, os Sacramentos serão meios de graça, pois àqueles que participam sem entendimento segue-se juízo (Mt 7, 24 a 27 e I Co 11;27 a 30).

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Quem é neo-puritano aqui?

Esse texto começou como uma simples resposta a uma “acusação” recente de neo-puritanismo. Ocorre, como sempre, que as letras voaram e a curta resposta se tornou esse artigo. Segue então, na flutuação das ideias apresentadas, o que penso de ser chamado puritano ou neo-puritano.
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O prefixo “neo”, do grego “νεος, νεα, νεον”, é um elemento de composição, significa novo. Aparece em termos como neologismo: palavras novas ou novas acepções e usos de uma palavra consagrada; artifício importantíssimo na língua portuguesa, com ela adaptamos (aportuguesamos) e assimilamos termos estrangeiros e de áreas diversas propondo novos usos. Outros exemplos comuns, são o neoclássico[1], neoliberal[2], neodarwinismo[3].

Usualmente se adiciona "neo" para afirmar certas continuidades e algumas inovações a um conceito, sem que seja essencialmente outro conceito. Na teologia temos esse uso, por exemplo: 

Pentecostal e neopentecostal: há distinções e progressos de um para outro, mas há muitas similaridades entre os dois conceitos, as vezes é até difícil classificar uma igreja (ou doutrina) como pentecostal ou neopentecostal;

Calvinismo e neocalvinismo: não confundir com novocalvinismo (newcalvinism) – movimento mais ligado ao fenômeno midiático do M. Driscoll[4] – Neocalvinismo “é o nome comumente usado para se referir ao movimento originado na Holanda, nos séculos 19 e 20, sob a liderança de Abraham Kuyper, cuja proposta básica era aplicar os princípios do calvinismo ao relacionamento do cristão e da igreja com a sociedade e a cultura de sua época”[5].

Ortodoxia e neortodoxia:
esse último, movimento teológico que floresceu na Europa (particularmente na Alemanha) da década de 1920 (caso interessante, talvez haja mais distinções que similaridades com o conceito de que deriva); o termo tenta ser de algum modo ‘bondoso’ com aqueles que abandonaram o fracassado liberalismo teológico e caminharam em direção da fé bíblica. Certamente o mais famoso expoente da neortodoxia é Karl Barth.

Dito isso, o que seria o Neo-Puritanismo?


Obviamente devemos caracterizar primeiro, PURITANISMO: Puritanismo foi um movimento de renovação espiritual na Inglaterra no século XVII, de confissão calvinista, que rejeitava tanto a Igreja Romana como o ritualismo e organização episcopal na Igreja Anglicana. Abrangente, repensou todos os aspectos da vida, inclusive a política, coisas que rendeu perseguições, forçando, por exemplo, John Winthrop (1588 a 1649; advogado e colonizador inglês) a levar o primeiro grande grupo de puritanos até a baía de Massachusetts (Estados Unidos, então colônia britânica). 

Toda essa situação chega ao seu ápice quando o Rei Carlos I, tentou impor o anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses, inclusive com ameaça de cadeias. Carlos I tenta com a eleição de um parlamento mais favorável a si, vencer a demanda, mas os ingleses elegeram um parlamento puritano, que foi prontamente dissolvido; com nova eleição, os puritanos tornaram-se ainda mais expressivos nas casas parlamentares; a persistência do rei em manter a obrigação da uniformidade anglicana, leva-o a uma guerra civil, que perdida resulta em sua condenação, por traição, à pena de morte, cumprida em 1649.

Passando ao largo de outros detalhes históricos, é nesse contexto da revolução puritana que acontece a Assembleia de Westminster; concílio convocado pelo parlamento, entre 1643 e 1649, para reestruturar a Igreja da Inglaterra. Constituída por cerca de 120 dos mais capazes teólogos da Inglaterra, 20 membros da Casa dos Comuns e 10 membros da Casa dos Lordes; todos os teólogos eram ministros da Igreja da Inglaterra e quase todos eram calvinistas. Houve participações de correspondentes escoceses. Produzindo, entre outros documentos, o Catecismo Maior, o Breve Catecismo e a Confissão de Fé de Westminster (nossos – IPB – símbolos de fé), que foi adotada como a confissão de fé distintamente presbiteriana.

Esta assembleia se caracterizou tanto pela erudição teológica, quanto pela profunda espiritualidade. Algo notável foi registrado pelo Rev. Robert Baillie[6]: “(...)num dia desses de jejum e culto houve quem orasse duas horas, sermões de uma hora entrecortados por orações de uma hora, por cântico de salmos ou orações de quase duas horas.”

Tudo isso serve para demonstrar quem de fato eram os puritanos. Parte da sociedade inglesa do sec. XVII e XVIII – sinceros e profundos conhecedores da fé cristã, bíblicos, interdenominacional (haviam batistas e congregacionais com essa mesma inclinação confessional), anti-romanistas, indiscutivelmente fieis e abnegados, dispostos até morrer pelo que acreditavam ser a correta interpretação da Palavra de Deus.

E neo-puritano? 
Seguindo a lógica, neo-puritano seria quem mantém grande parte do pensamento teológico distintivo dos puritanos? Quem busca a piedade em todas as áreas da sua vida, marca daquela geração? Quem tenta viver a fé puritana mesmo que com algumas alterações? ...até quem estando errado em suas concepções anteriores, ao reconhecer suas falhas, caminha em direção ao certo (nesse caso tendo o paradigma inquestionável desses grandes homens de Deus) bem poderia ser chamado de neo-puritano? 

De qualquer modo que avaliarmos, todo o membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, que seja coerente em sua devoção e piedade, sincero e submisso à Palavra, que busca viver de acordo com a declaração teológica sistêmica institucionalmente reconhecida (confissão de fé pública); aquele, em especial os oficiais (presbíteros e diáconos), que juraram em sua ordenação defenderem os símbolos de fé[7] – documentos puritanos! – devem (ou deveriam) ser identificado como neo-puritano e até se orgulhar disso! 

E mais, visto que todos os presbiterianos de verdade são, de algum modo, neo (novos, atuais, agora) puritanos – razões expostas acima – interna corpore, o termo é vazio de outro significado; não passa de um sinônimo de puritano do novo mundo[8], um tanto desmedido – confesso – afinal nem há grandes mudanças teológicas assim entre o presbiterianismo do séc. XVII e o professado oficialmente na IPB, para tornar-se uma vertente doutrinária notável.

No final a pergunta que deve ser feita não é quem são os neo-puritanos ou o que eles pensam. O questionamento sincero – e aqui falando especialmente como pastor presbiteriano aos membros da IPB – é: realmente você é um presbiteriano? Em outras palavras: você conhece, e por isso subscreve, os símbolos da fé presbiteriana? 

Se não, conheça-os aqui, gratuitamente: http://www.ipb.org.br/recursos

Se sim, parabéns, há provas suficientes que você é um NEO-PURITANO!


Das trincheiras 
Esli Soares
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[1] Diz-se do movimento artístico inspirado nos ideais e modelos do Classicismo greco-romano, e também Renascistas, tendências mais clássicas do Barroco francês.
[2] Doutrina econômica voltada para a adaptação dos princípios do liberalismo clássico às exigências do Estado atual. Tem variantes significativas, desimportante para o artigo.
[3] Complementação da teoria de Darwin, reconhece como principais fatores evolutivos a mutação, a recombinação gênica e a seleção natural. E a fórmula vigente do que pode ser chamado evolucionismo.
[4] Há outros nomes, como John Piper, Albert Mohaler, Matt Chandler, Mark Dever, C. J. Mahaney, Joshua Harris, homens de Deus que têm contribuído muito com a fé cristã.
[5] Lima, Leandro A. de. O futuro do calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 71-72 (citado).
[6] Kerr, Guilherme, A Assembléia de Westminster, E. F. BEDA – EDITOR, São Paulo, SP, Brasil 1984.
[7] Confissão de Fé de Westminster, Catecismo Maior e Breve Catecismo.
[8] Referência ao continente americano.

Para saber mais sobre os puritano e a CFW, acesse: http://www.mackenzie.br/7121.html

Para saber mais sobre a Igreja Presbiteriana do Brasil, acesse: http://www.ipb.org.br/

sábado, 3 de setembro de 2016

4 simples razões para batizarmos crianças:

1) A obviedade: Parece certo insistir que nos tempos do Novo Testamento, as crianças simplesmente eram batizadas. É bastante plausível que boa parte (se não a maioria) das famílias que aceitavam a nova fé, e por isso se batizavam, tinham crianças que eram também introduzidas no cristianismo pelo batismo. Assim é razoável pensar que quando o Texto Sagrado disse que alguém foi batizado juntamente com toda a sua casa, ali se batizaram crianças também.

2) A antiguidade: É tão possível que nos tempos apostólicos se praticava o batismo infantil que registros dos primeiros séculos do cristianismo tratam disso:
ORIGENES (185 – 254) disse, “A Igreja recebeu dos Apóstolos o costume de administrar o batismo até mesmo para crianças”.
HIPÓLITO (? - 235) afirma “...e si batizarão as crianças em primeiro lugar. Todos os que puderem falar por si mesmos, falarão. Enquanto aos que não podem, seus pais falarão por eles ou alguém de sua família. Se batizará em seguida os homens e finalmente as mulheres...”;
CRISÓSTOMO (347 - 407) “batizamos também as crianças de pouca idade”;
AGOSTINHO (354 – 430) “desde a circuncisão, que era então o sinal da justificação pela fé, tinha valor também para as crianças, pelo mesmo motivo o batismo desde o momento que foi instituído. (com alterações)”
              Interessante o mais antigo registro contra o batismo de infantes parece ser do herege Pelágio no século V.

3) A continuidade
: Se no antigo modo da Aliança, a circuncisão era símbolo do povo de Deus, que devia ser aplicado, sem demora e sem estorvo, a todo o macho (no 8º dia; Lv 12;3), por que agora o batismo nas águas tendo o mesmo sentido, mas ampliado pela largura da Graça em Cristo, deve ser atrasado? Se os filhos dos cristãos, são também parte do povo de Deus, por que negar-lhes o símbolo? Se a promessa é para a família, que faria a fé obediente, além de batizar o infante?

4) A objetividade: Em Mt 28;18 a 20, quando o mestre passa a Grande Comissão, inequivocamente afirma a necessidade do sacramento do batismo. Daí segue-se que devem ser batizados todos os que estão sendo ensinados a obedecer tudo o que Cristo ensinou, sendo feitos assim discípulos (literalmente cumprir o ide...) Se os filhos dos cristãos devem ser ensinados na disciplina do Senhor (Ef 6;4), logo devem ser batizados!

Conclusão: 
O Batismo Cristão não é para a salvação, nem para o perdão de pecados, nem mesmo de arrependimento. Segundo Jesus (Mt 28:19 e 20), o 'batismo, com água, no Nome Tríplice' é marca inicial dos que aderem a Fé Cristã. E para tal, não há referência a quantidade de água e nem a origem ou local dessa água, ou percentual do corpo que deve ser molhado. Bem como não há idade mínima ou máxima para receber o selo (batismo). Nem mesmo a quantidade assimilada dos ensinos de Jesus (poucos ou muitos) é apontada como qualificante! A REGRA dada por Jesus é simples: Feito discípulo, isso é, sendo ensinado a obedecer TUDO o que Cristo mandou, fez e ensinou, este deve receber a marca de iniciação cristã (Batismo nas águas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). SIMPLES ASSIM, tenha fé, OBEDEÇA!
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A citação dos ‘Pais da Igreja’ (ponto 2) foi retirada de diversas pesquisas, inclusive via internet, mas confirmada sobre tudo, nas afirmações similares de F. Turretini (Compêndio de Teologia Apologética, 3, XIX, 7, pág. 508,) e de H. Bavinck (Dogmática Reformada, 4, 10, pág. 503).

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O Livre-Arbítrio

Esse texto é baseado no material pesquisado e no esboço elaborado para o estudo sobre o tema Livre-Arbítrio, na Congregação Presbiteriana do Jardim Eldorado em Porto Velho-RO, ministrado em 28 de julho e 11 de agosto de 2016.
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Há no homem alguma genuína liberdade de escolha? Somos meros bonecos no teatro de fantoches divino? O homem escolhe livremente entre o Bem e o Mal? Um mero sim ou não, seria insuficiente para responder essas perguntas. Há tantos detalhes, correlações, etc., impossível tratar tudo neste curto esboço que tem por alvo, apontar a compatibilidade (ou não) do livre-arbítrio com os ensinos bíblicos.

Livre-arbítrio é um conceito metafísico muito conhecido. Filmes, livros, desenhos aminados, fábulas infantis ou mesmo palestras motivacionais, abordam a vida na perspectiva: “você faz seu destino”, “suas escolhas definirão o seu futuro”, “tudo depende de você”, e assim, no senso comum, nenhuma certeza é mais vigorosa do que esta: “tenho liberdade de escolha, é a partir delas que se constrói o meu futuro”.


sábado, 23 de julho de 2016

O Ofício Feminino


Este artigo foi baseado no estudo apresentado na Congregação Presbiteriana do Jardim Eldorado em Porto Velho - RO em 22 de julho de 2016.


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Numa rápida pesquisa verifica-se que desde meados do séc. XX, mesmo que poucas, começou-se a ordenar mulheres ao sagrado ministério; já em 1948 a Igreja da Dinamarca, de teologia luterana, teve a sua primeira mulher-padre. A Igreja da Suécia (também luterana) que ordena mulheres desde 1958, tem desde 2013 uma arcebispa (Antje Jackelén). Especialmente depois da revolução sexual americana dos anos 1960, há pressões crescentes para que elas exerçam TODAS as atividades tradicionalmente masculinas. A igreja obviamente não está imune a isso, tanto que muitas mulheres estão sendo ordenadas em ofícios eclesiásticos. Embora igrejas de matriz Romana (e similares) ou as protestantes mais conservadoras, ainda não ordenem mulheres, no Brasil, grupos históricos de pentecostais, batistas e metodistas, já tem em seus quadros pastorais, mulheres ministras e dentro do movimento neo-pentecostal já há muitas pastoras, bispas e até apóstolas, algumas inclusive famosas.


sábado, 9 de julho de 2016

4 observações sobre o 4º mandamento

(Ex 20; 8. a 11):

1) O mandamento é para ser lembrado, trazido e mantido na memória, deve ser algo buscado, perseguido, incentivado... por isso mesmo esse mandamento está positivado na Palavra, diferentemente de outros oito dos dez mandamentos (que são negativos, “não farás...”). Nossa tendência natural é então rechaçada, somos egoístas, cremos que nossa capacidade nos dará tudo, confiamos na força dos nossos braços, o trabalho e a determinação nos farão avançar; esse mandamento nos esmaga, humilha, mortifica! Nos faz lembrar que nada somos, que Deus é o Senhor do Tempo, exalta uns e abate outros, e determina a sorte das nações. E mais, Ele que criou o mundo, descansou! Fica óbvio que há um tempo determinado para tudo e até para o descanso, não seja impertinente.

Lembre disto!

2) O mandamento fala do dia de descanso físico, da suspensão do trabalho; é para nosso deleite, nosso prazer! Não é (e nem deve ser) um fardo, uma tortura e nem uma obrigação mecânica, mas sim um privilégio, uma dádiva, um presente imerecido! Não uma arma ou arapuca, para nos fazer tropeçar... ele é nosso, e não nós, dele! Afirma-se aí benevolência do Senhor que concede um descanso aos seus servos, e nos estimula a agir assim com todos os que estão a nossa volta, seja com nosso filhos, colegas e funcionários, ou com outros, sobre nossa supervisão e autoridade, e até mesmo sobre os nossos animais.

Descanse assim!

3) O mandamento aponta que o descanso (físico) é santo (correto, bom, justo, divinamente inspirado – e, já por isso, obrigatório: os filhos de Deus buscam obedecê-lo), mas não é meramente isso, não fala só do corpo, do mundo físico, do animal. O mandamento é também espiritual; deve ser consagrado, ou seja, separado do comum e dedicado a Deus, tem-se então a face cúltica evidente – sua observância será agradável ao Senhor, mas deve ser sem mentiras e hipocrisia, sem legalismo destituído de entendimento e amor; não cultuemos a Deus presos a perscrutações sem fins e regrinhas, queixumes e questiúnculas, que antes ofendem e matam, nada misericordiosamente necessário. Cristo é nosso Descanso, é o dia dele, dia futuro, semanalmente anunciado.

Santifique isso!

4) O mandamento foi mudado: o sétimo dia passou para o primeiro – isso é biblicamente comprovado*! Essa mudança afirma um novo começo, uma nova dispensação, um novo Sacerdócio, e certamente uma nova forma de observá-lo. Não mais na caducidade da letra, mas apoiado na Palavra Viva, o Senhor Jesus. O que mostra também o verdadeiro cumprimento que está em Cristo, pelo que temos livre acesso ao nosso deleite real, Àquele que é a razão existencial, nosso propósito principal! Entraremos, por pura e maravilhosa Graça no Descanso do Senhor, que desde do princípio está reservado para aqueles que lavaram as suas vestiduras com o sangue do cordeiro.

Guarde isso!

Concluindo:
Seu coração, deseja Ele? Então deve desejar o dia dEle, mesmo o já previamente vislumbrado no encontro semanal da Igreja. Não faça disso um "cavalo de batalhas", mas não esqueça que é prescrição divina, o santo descanso. Lembre-se, o dia do Senhor será o dia da consumação da nossa salvação, dia este, já realizado na eternidade, confirmado na historia pela cruz e pela ressurreição, e semanalmente anunciado. É o dia da vitória de Jesus, vitoria por nós; não minimize e nem menospreze essa realidade. Mas não torne essa data um suplício nem para ti, nem para os outros! Organize-se para aproveitar o máximo possível esse dia, em especial a Palavra Viva que deve ser anunciada (e ouvida) na Igreja.

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* Veja em: http://acruzonline.blogspot.com.br/2016/06/7-vozes-sobre-o-7-dia.html

quinta-feira, 23 de junho de 2016

7 Vozes sobre o 7º dia


Esse artigo tratar objetivamente do 4º Mandamento (Êxodo 20;8) na celebração cristã em sua óbvia transição do 7º para o 1º dia da semana. A ideia é afirmar o valor piedoso do culto no domingo. Não haverá uma defesa do modo especifico de se observar esse mandamento para além desse quesito; isso ficará para outro momento, afinal esse tema é muito bem estruturado nas diversas tradições cristãs. Segue então 7 apontamentos, escalonados – penso eu – em ordem crescente em importância ou peso argumentativo, sobre a mudança do 7º dia.

1- A voz do calendário:
Em 320 d.C. na reforma do calendário romano, oficializam o primeiro dia da semana como “Dia do Senhor” especificamente por ser o dia conhecido e aceito costumeiramente como sendo próprio da celebração cristã. Conjuntamente, se mantém o sabbath (sábado) em referência ao antigo compromisso judeu (lembre-se que haviam muitos judeus em todo o mundo romano). Eles não são juntados ou ignorados, indicando que eram dias para diferentes religiões, realidade já clara ainda nos primeiros séculos da era comum. E mais, o concílio de Niceia (ano de 325 d.c), faz alusão ao Dia do Senhor, primeiro dia da semana, em uma de suas decisões. O Dominica Dies (literalmente Dia do Senhor), mais para frente “domingo” – no nosso bom e velho português – passa a reger o início das semanas. Ou seja, a influência cristã na sociedade romana, religião que inicialmente foi mortalmente perseguida, depois tolerada, aceita e oficializada é que força a mudança do calendário e não o contrário, como afirmam alguns.

2- A voz da Tradição:
Em meados do século II, Justino, o Mártir, identifica “o viver cristão com o sábado perpétuo que consiste de abster-se do pecado, e não do trabalho” – uma clara oposição ao costume judeu. lrineu encarava o sábado como um símbolo do futuro reino de Deus, no qual aqueles que serviram a Deus “num estado de descanso, participariam da mesa de Deus”, espiritualizando o entendimento do mandamento. Tertuliano declarou: “Nós não temos nada a ver com as festividades judaicas”, obviamente incluindo o sabbath. Orígenes disse do cristão perfeito: “Todos os seus dias são do Senhor e ele está sempre observando o dia do Senhor”, contra o exclusivismo sabatista. Mas no Didaquê, o mais antigo manual de preparação de batismo e discipulado da Igreja Cristã (80-90 d.C.), diz no Capítulo XIV: Reuni-vos no dia do Senhor (o primeiro dia da semana) para a Fração do Pão e agradecei (celebrai a Eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.

3- A voz da História:
Parece certo dizer que foi só no início do século XVII que essa ideia ganha algum interesse. Na Inglaterra, em 1617, um grupo dissidente de batistas organizou a primeira Igreja Batista do Sétimo Dia. Literalmente se separando da cristandade da época. Embora o contexto histórico conturbado fundamente, também, essa separação, simplesmente eram o único grupo a insistir com isso. E segundo eles mesmos, foi por isso que eles se separam. O distintivo era observar o sábado (sétimo dia) como dia de descanso e adoração, “uma exigência imprescindível do cristianismo bíblico”. Foi-se mais de duzentos anos até que por influência de Raquel Oaks, viúva, membro da igreja Batista do Sétimo Dia, o pastor Frederick Wheeler passa a observar o sétimo dia, iniciando assim o que mais tarde se torna a Igreja Adventista do Sétimo Dia, os mais “famosos” cristãos sabatistas. Isso não é desimportante, é como afirmar que levou 1500 anos para o Espírito Santo convencer a igreja a ser pura!

4- A voz da Reforma:
Calvino em sua mais notável obra, diz que o apóstolo Paulo ensinava que os cristãos não devem ser julgados por sua observância (a guarda do sábado ou de outro dia especial) pois era apenas sombra da realidade futura. E, mais, afirma também que o autor da Carta aos Romanos acusa de ser “supersticioso quem distingue um dia de outro dia”. E completa, “visto que era proveitoso afastar a superstição, foi abolido o dia religioso dos judeus (sábado ou sétimo dia), e como era necessário manter na Igreja o decoro, a ordem e a paz, outro dia foi destinado para esse fim”. Prosseguindo, para concluir seus argumentos, diz: “Não foi aleatoriamente que... antigos colocaram o dia do domingo no lugar do sábado. Dado que a verdadeira quietude que o antigo sábado representava teve na ressurreição do Senhor um fim e complemento, pelo mesmo dia, que pôs fim à sombra, os cristãos são admoestados a não aderir a uma cerimônia de sombras”.

5- A voz da Pureza:
Já os puritanos – parte da sociedade inglesa do sec. XVII e XVIII – sinceros e profundos conhecedores da fé cristã, bíblicos, interdenominacional, anti-romanistas, indiscutivelmente fieis e abnegados, dispostos até morrer pelo que acreditavam ser a correta interpretação da Palavra de Deus, são unanimes em compreender a obediência ao 4º mandamento (lembrar-te do dia de sabbath, para o santificar) como a observação piedosa do primeiro dia da semana (domingo). É fácil provar a disposição deles em romper com tudo que era meramente tradicional ou apenas romanismos, e caminhar na certante das Escrituras Sagradas. Eles avançaram sobre temas como o governo eclesiástico, as relações da Igreja e o Estado, negaram o cerimonialismo, o poder papal, partilhavam um ativismo sócio-político tocante e eficaz, mas simplesmente insistiram – e até de forma radical; vejam os padrões de Westminster – "o Dia do Senhor é o primeiro dia da semana"! Notem que esses eram contemporâneos dos primeiros sabatistas, não há dúvidas da posição deles – o que diz muito! 

6- A voz da Teologia:
Cristo ao se afirmar o Senhor do sabbath, coloca esse mandamento na perspectiva certa: o descanso foi feito para o homem e não o contrário (Marcos 2;27 e 28), vence a superstição associada ao dia – as 24 horas semanais tem algum valor em si mesmas –  sacramentando, de modo inquestionável, o valor piedoso – obediência e submissão, afinal até Deus descansou! – já do cuidado do corpo garantido pela simples observação do descanso físico semanal. Em outro ponto, João 4;23, num dia comum, o Mestre afirma que a hora já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois estava trazendo essa hora cativa a si mesmo (João 15;1-11). Somando-se às leis do Antigo Testamento que regem a observância do sábado, devem-se compreender o princípio do “novo sábado”, relembrando o passado bendito, no Éden e seu fruir livre, prazer de Deus – e Árvore da vida quase sempre esquecida! –  contrastando com parte da pena imposta a humanidade (o sustento através do penoso trabalho), quanto para o dadivoso futuro, numa expectativa da vitória definitiva de Jesus Cristo, da qual sua ressurreição, que aconteceu no primeiro dia da semana, é um prenúncio, o Último Dia, o Dia do Senhor que é verdadeiramente o Descanso prometido por Deus (Hebreus 4;1,3, 7-11), e em especial como apontamento já no presente, do Descanso na visão cristã, antes de tudo, A Paz com Deus, um cumprimento espiritual da alegoria no Salmo 23. Em outras palavras, o leve fardo e o suave jugo do Senhor (Mateus 11;30). Ou seja, por causa do Cristo glorificado, que santificou todos os tempos, rasgando o véu da separação, dando livre acesso ao trono da Graça (Efésios 2; 11 a 18), o domingo não é como o sábado dos judeus (atrasado 24 horas) – pois se for, incorre-se no mesmo erro dos judaizantes – mas um anúncio de vitória completa de Cristo, passado, presente, futuro; o próprio dia é em si Pregação!

7- A Voz da Palavra:
Fica claro em todo o livro de Atos que tanto Paulo, quanto os outros apóstolos iam as sinagogas, aos sábados (sétimo dia), pois era o dia comum de funcionamento, para ali pregar o Evangelho aos judeus! Mas em Colossenses 2;16 e 17, Paulo, o apóstolo dos gentios, afirma não ser necessário fixar-se em datas e dias dos judeus e nem em outro costume da religião judaica. Em Gálatas 4;10 e 11 ele lamenta, questionando o resultado do seu trabalho, exatamente porque, entre outras coisas, os crentes daquela cidade estavam querendo guardar “dias, e meses, e tempos, e anos”. Interessantemente no concílio de Jerusalém (Atos 15), os apóstolos reunidos não impuseram aos não-judeus, nenhuma outra coisa além de que se guardassem da idolatria, da imoralidade sexual, da carne dos animais sufocados (talvez torturados) e do sangue (provavelmente uma alusão à rituais pagãos de abatimento animal). Eles não ratificaram a observância do sétimo dia, preceito importantíssimo no judaísmo. Entretanto é inegável o fato: a Ceia do Senhor era realizada no primeiro dia da semana (domingo)! Numa tradução mais literal de At 20:7, “no primeiro dos sete dias da semana, tendo os discípulos sido ajuntados para partir o pão, Paulo, estando para viajar no dia seguinte, de forma completa argumentava com eles; e prolongava a pregação até à meia-noite...”. Segundo uma nota de tradução, os termos “των σαββατων”, que foram traduzidas na maioria das versões – inclusive na mais usada pelos sabatistas – como relativo semana, estão no caso genitivo e no gênero plural, forçando a compreensão num sentido de “primeiro dia da semana” (domingo), foi esse entendido usado para outras oito passagens: Mateus 28:1; Marcos 16:2,9; Lucas 18:12; 24:1; João 20:1,19; ICoríntios 16:2.  – Pense bem, o reanúncio do Sacrifício materializado, um sacramento, ordenança de Cristo, meio de Graça, não só ao coração (doutrina) mas também para os cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar) era naturalmente feito no domingo. Isso é muito significativo!

A Voz da Razão:
O cristão deve fugir de qualquer superstição quanto o tema. O 4º mandamento se mantém em seus princípios, assim como todas as leis cerimoniais do Velho Testamento. Embora se possa argumentar de modos diversos como deve ser essa observância específica, é sábio insistir que o dia da semana foi mudado. Coisa que não se prova apenas por um mero verso, mas por toda a sabedoria divina presente em toda a Escritura Sagrada.

A voz de outros:

Para saber mais sobre a tradição (patrística), sugiro:
http://www.paulus.com.br/loja/patristica_c_100_175.html

Sobre o pensamento de Calvino, sugiro:
http://loja.clire.org/produto/a-instituicao-da-religiao-crista-tomo-1-e-2/
http://www.cristaoreformado.com/2016/06/o-que-calvino-realmente-disse-sobre-o.html

Para saber mais sobre os puritanos, sugiro:
http://www.livrariacultura.com.br/p/paixao-pela-pureza-42891540
http://www.editorafiel.com.br/produto/5504435/Santos-no-Mundo

Sobre o 4º mandamento sugiro:
http://www.monergismo.com/textos/dez_mandamentos/quarto_solano.htm
http://editoramonergismo.com.br/?product=os-dez-mandamentos

Observações:

A citações dos pais da igreja foram retiradas de livros digitais usados na minha monografia para ordenação;
O Didaquê pode ser consultado aqui: http://www.ofielcatolico.com.br/2001/05/o-didaque-instrucao-dos-apostolos.html
A citações de Calvino, são do capítulo VIII, parágrafos 32, 33, 34, livro 1, tomo 2, da UMESP.
Originalmente postado em: http://acruzonline.blogspot.com.br/2016/06/7-vozes-sobre-o-7-dia.html

domingo, 3 de abril de 2016

O Cristão e as Tatuagens


Algumas palavras introdutórias:
Inicialmente comecei a escrever um roteiro para um rápido vídeo em que pretendia responder as indagações de amigos que pedindo explicações, insistiram em respostas mais formais sobre tatuagens. Foi daí que veio esse ‘pequeno’ artigo.

O tema é batido, muita gente boa já comentou. Eu nos últimos 4 anos já respondi essa mesma pergunta uma meia-dúzia de vezes. Quase tudo que escrevi são convicções antigas. O tema é recorrente para mim desde o início da adolescência, quando integrante de uma banda de rock, pensei em me tatuar – desejo não concretizado por detalhes, pelo menos inicialmente. Desde então revisei alguns conceitos que progrediram e se estabeleceram mais firmes. São eles que esboço.

Embora seja mais comum o questionamento sobre “o cristão e as tatuagens”, abordarei a temática mais ampla das modificações corporais. Isto é, basicamente, tratarei tudo como uma coisa só; os argumentos serão necessariamente intercambiáveis, valendo para as diversas modalidades dessa prática, seja tatuagens, piercings, brandings, escarificações, implantes, alargadores, fendas, amputações e etc. – se der tempo, ainda falo algo sobre cirurgias plásticas e de outros procedimentos estéticos menos invasivos.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Sobre as discussões...

No mesmo lugar que se lê o tão citado texto¹ quando de discussões teológicas: "Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis." Também, se lê "... faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens (os que crêem em Deus)." bem como "Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada."

Sem muita dificuldade ou grandes incursões exegéticas, é possível compreender que a defesa da fé, digo de uma defesa verbal – as discussões teológicas – deve ser feita. Claro, de forma propositiva, ou seja, com o objetivo de crescimento mútuo e fortalecimento da fé (Efésios 4;12). E obviamente tais versos, destinados a Tito, pelo apóstolo Paulo, nos exortam a NÃO gastarmos nossa energia – em defesa verbal da fé; discussões teológicas e etc – com os que só querem criar divisões e contendas na Igreja, obviamente aqueles que insistem em heresias e afirmações anticonfessionais².

As exortações, os debates, as discussões teológicas -- mesmo as mais acaloradas -- não estão vetadas quando o propósito é ensinar a Verdade àqueles que amam a Cristo. E isso se faz também com contrariedade, arguição, desconstrução e silogismo -- Não dá para esperar crescimento por ‘osmose’! Não faz sentido todo o Texto Sagrado fazer uso da lógica e da razão e isso ser proibido para os cristãos. Chamam Jesus de Mestre, a Igreja de Escola da Graça e o Espírito preceptor³ e imaginam que o crescimento na fé e no CONHECIMENTO daquele que é a Cabeça vem por algum ritual místico? Não dá!

Obviamente outras imposições bíblicas devem ser levadas em consideração. Desde o amor ao irmão, ao apego a sã doutrina (todo bíblico aplicado a cada detalhe) ou respeito aos maiores (mais velhos, mais experientes e os que possuem maiores responsabilidades, cargos, tarefas ou ofícios na Igreja) e a humildade. Não se pode esquecer também da paciência com os mais simples e com aquela que estão começando na carreira da fé, ou os que por diversas razões estão com os pressupostos teológicos errados.

Não devemos tomar o padrão mundano (melindroso) de aceitar tudo e qualquer coisa, mesmo as mais antagônicas pela alcunha de amor. Isso não é só obtuso, é contraditório ao expediente ordinário da Palavra que em mais de uma ocasião nos chama ao arrazoamento.
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¹ Tito 3;9 e, obviamente os versos próximos.
² Eis mais uma vantagem da confessionalidade: afirmações limítrofes práticas e claras; fica fácil.
³ O que dá instruções ou preceitos; mestre; aio.