quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Vinho ou Suco de Uva?

Embora haja certa razão em dizer "suco das uvas", vinho que ainda não fermentou, vinho não pronto, para justificar uso no sacramento (Santa Ceia), ou ainda de alegar que Jesus em Mateus 26;29, nada mais tenha expressado sobre o cálice, além de que era bebida fruto da videira. O termo usado nas inúmeras passagens bíblicas é melhor traduzido por vinho, e vinho é alcoólico (tanto que há vinho desalcoolizado) – seria bem estranho Noé ficar bêbedo com o suco de uva ou Paulo recomendar para não se embriagar com um refresco.

Mas aludir ao "vinho novo" para sustentar a proposta, é não compreender as ideias das parábolas: "outro vinho, outro odre", isso é, não o mesmo sistema ou holocaustos; é outro sacerdócio – Jesus aponta que seu ministério é novo, diferente, exclusivo, completo e efetivo, que não precisa ser renovado anualmente. Fora isso, é também ignorar que o sacrifício de Cristo foi na plenitude dos tempos, e não antecipadamente ou imprevisto.

Também acenar para a mistura ou diluição com água como uma possível solução da época, no interesse de diminuir os efeitos ébrios, além de ser um acinte a antiguíssima cultura do vinho, nada muda a presença do álcool na bebida, tornando tal solução inútil e mais, acaba por permitir certa insinceridade no símbolo em desconformidade com o que representa. Afinal das ilustrações que circundam o martírio de Jesus, deve-se afirmar a perfeição do mesmo (parece ser isso que o autor de Hebreus 12 sugere), Apocalipse 14;10 fala de um cálice preparado sem mistura, a ira de Deus, que será, no fim, derramado sobre os Seus inimigos, cálice que claramente Jesus tomou em nosso lugar e para o nosso favor (Isaías 53).

De igual modo, propor que o caso deva ser decidido em prol dos irmãos que lutam contra o alcoólismo é legislar sob flácidas bases humanistas. Será que existe essa doença, mesmo? Não seria apenas um engodo psicoantrologico pós-moderno? Talvez só medo ou fragilidade na fé? Puro legalismo, quem sabe? Daí não estariam mantendo a prisão ao não permitir que irmãos exerçam sua liberdade? Ora a verdade liberta! Além, é claro, de ignorar que domínio-próprio é fruto do Espírito.

Por fim dizer: é melhor, evita ser pego numa blitz da "lei seca"! É antes deixar o mundo reger a devoção cristã (que deve ser somente direcionada pela Palavra), e então um erro desnecessário: provavelmente, a quantidade de álcool nos minúsculos cálices, geralmente usados nas igrejas, é desprezível para registro da alcoolemia mínima legal, e possivelmente, os minutos de bate-papo no fim do culto, já seriam mais que suficientes para metabolizar todo ele. E mais, o nosso direito ao culto sem constrangimento – ao meu ver – é defesa suficiente para resolver um eventual processo penal.

Eu realmente creio que devíamos servir vinho (suco fermentado de uvas) na Ceia do Senhor, não vejo nenhuma razão bíblica para não proceder assim. Até o leve amargor de um cálice de vinho seco¹ serve de instrução. Louvo a Deus porque conheço algumas igrejas (ministros, oficiais e membros) fiéis e maduras que naturalmente compreenderam isso, e simplesmente começaram a servir vinho, indo na contramão de um evangelicalismo medíocre e legalista, tão comum e arraigado em nosso país.

Mesmo assim – já lembrando o fato que eu não sou abstêmio² – não faria voz favorável a tal debate, que dirá à minha posição. Que sentido há em arrumar confusão logo com o cálice da comunhão? Seria o teor alcoólico um símbolo tão evidente na celebração que seja imperativo, como é o suco do fruto da videira afirmado diretamente por Cristo? Ou ainda o esmagar das uvas em sua ligação inconteste com o sofrimento vicário do Salvador? Ou mesmo a coloração que lembra o Sangue? Devemos mesmo levantar essa discussão, agora, quando em nossas comunidades eclesiástica, alguns mal sabem achar um livro específico na Bíblia?
--------------------

¹ Para alguns o ‘vinho de verdade’, em contraposição ao ‘vinho suave de mesa’ que adicionam depois da fermentação açúcares para torná-lo mais doce e de simples deglutição.

² O que poderia ser até utilizado por mim para justificar meu consumo particular da bebida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

É sua vez de dizer alguma coisa! Será bom te ouvir (ou ler), mas lembre-se da boa educação.