sábado, 19 de setembro de 2015

Achou ruim? A porta da rua...


Em várias ocasiões Jesus frustou a expectativa da multidão que o seguia. Numa destas vezes, não só as deixou perplexas como também acabou por afasta-las. Diz-nos assim, a Palavra de Deus: "É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai". Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo. Jesus perguntou aos Doze: "Vocês também não querem ir? (João 6;66, 67)".


Jesus faz uma declaração dogmática: que não está disponível para debate ou contestação. Essa afirmação inclusive é ignorada e abusivamente distorcida por grande parte da cristandade. Para Jesus, a salvação não depende da vontade humana, é um ato TOTALMENTE divino. Paulo compreendendo essa importante verdade diz em Romanos 9;14 “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus”. Isso é, Deus exclusivamente decide quem será salvo e quem será condenado, ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso (Rm 9;21)? Num todo revelado, aqui vemos com clareza, na fala de Jesus, o conceito de Predestinação. Deste modo defende os Canonês de Dort e esta é a compreensão cognominada vulgarmente de calvinismo. Verdade Cristã esboçada pelo acróstico, em inglês, TULIP¹. Literalmente o oposto, irreconciliável à proposta herética arminiana.

Muita gente que gostava de Jesus, de seus milagres e até de sua doutrina, gente que era discípulo Jesus (grande grupo de seguidores, mas não faziam parte dos 12, dos quais 11 são, depois, os apóstolos), simplesmente não suportam tais ideias e deixam de segui-lo. Claro, não só por essa frase, no contexto, Jesus faz uma série de outras afirmações que contrariam as expectativas das multidões. Olhando do que está mais perto dos versos citados para o mais distante, vemos: No v.64 “há descrentes entre vós”. Jesus não se furta em dizer que alguns que estão com ele, não são e não serão dele. João, como lhe é peculiar antecipa detalhes do Evangelho, sugerindo que ele falava das intenções de Judas Escariotes (que foi quem o traíu); No v. 63 “...a carne para nada aproveita” – Jesus absolutiza a antítese cristã. O Mestre afirma que a natureza humana (caída) não tem valor para seu Ministério, que seu reino é espiritual, que é louca, e por fim será frustrada a expectativa de um reino temporal, da tomada do poder das mãos de Cesar; No v.62 “...o lugar onde primeiro estava?” – não só afirma a sua santidade ou divindade, como também exprime seu intenso e singular relacionamento com o Pai (Filho do Homem) e sua ascensão, coisa que também frustraria a ideia de uma restauração física do reino de David (Atos 1;6).

E para evitarmos ser muito extensos, vemos nos v. 41 a 59 que Cristo faz 3 grandes afirmações conectadas: a primeira, Ele é o pão da vida, termo que arremetia inequivocamente ao Maná e a experiência de direção e sustento providente do SENHOR do povo no deserto; a segunda, a recepção desta verdade (aceitação pela fé) depende da revelação dada pelo Pai, opondo-se a naturalidade da linhagem abraãmica (vide v.63); e a terceira, que apenas através de um relacionamento direto e intenso (corpo e sangue) com ele é possível ter a vida. Na cabeça do judeu, que sabia do valor sacrifício, a fala de Jesus significa uma grande mudança nos parâmetros religiosos; não numa a-religião, mas numa outra religião: “odres novos para vinhos novos”, e vinho a partir da transformação das águas cerimoniais – orgulho dos judeus – da ‘velha aliança’.

Jesus não tem medo de ser rejeitado nem mesmo por aqueles que eram seus. Bem se poderia afirmar que Jesus fala como fala, porque ele sabia que estes 12 não se perderiam, exceto aquele que estava preparado para perdição. Sim, isso é um fato, mais que óbvio, afinal Jesus é Deus e mesmo em estado de humilhação tinha plena consciência (Ap 5;5) da força da vontade decretiva do Pai. Entretanto a certeza tácita de Jesus de que não perderia nenhum (dos eleitos, e não só dos discípulos/apóstolos) não está baseada na sua consciência divina, e sim na sua compreensão da Verdade: “se o Pai me der, quem tomará”? Ele se afirmava a videira verdadeira, que sem ele nada, os cristãos, poderiam fazer, mas aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas? E mais, quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica; Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós; quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?

Mas o aviso – se preferir: a oportunidade – do Mestre aos seus discípulos, é sincero. Jesus, no mínimo, está ensinando que ele não vai mudar seu ritmo, sua disciplina, seu expediente para se adequar as expectativas das massas. Ele não está preocupado com números, nem ligado a fama. E vemos isto em mais de um episódio, por vezes Jesus instrui aos que foram curados para não divulgar o milagre recebido. Jesus denunciou que alguns o seguia porque foram saciados pelos pães. Certamente aqui antevemos outras palavras diretas e duras do mestre, verdade que ele também não adocicou para se tornar mais aceito:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim (Jo 15;18), ou; Eu os estou enviando como ovelhas entre lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas (Mt 10;16). Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim (Mt 10;38).
Bem como outras falas nada “gentis” do mestre:
Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos; Não lanceis aos porcos as vossas pérolas, para não acontecer que as calquem aos pés e, voltando-se, vos despedacem; Raça de víboras! Como podeis vós falar coisas boas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca; Mas ele lhes respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o do profeta Jonas; Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade.
Sabemos que Jesus não debatia com as pessoas, ele não tenta vencê-las, rechaçá-las, através dos seus ensinos, ele, simplesmente, diz a verdade, ouça quem quiser (quem tem ouvidos, ouça! Jo 2;27) e quanto mais o escutavam (davam valor as palavras do Senhor), mais se dividiam em dois grupos (Salmo 1): os que o procuravam com sinceridade porque desejavam entender mais e os que o rejeitavam porque Jesus não era um tipo ‘controlável’ de pregador.

Na prática, sem meia conversa, Jesus está dizendo hoje também: Não gostou? A porta da rua é serventia da Igreja! Por isso não sejam como os muitos discípulos de Jesus, que se escandalizaram com seus ensinos, porque este lhes pesava a consciência, e cauterizados preferem rejeitar o profeta, do que admitir que é o ladrão da única ovelha do vizinho (2Sm 12;1 a 24); Não endureçam o coração como o povo no deserto; como escaparemos se negligenciar tão grande salvação?

Ao crescer na fé, saber mais das difíceis lições de Jesus Cristo, como você reagirá: Dando-se por vencido, aceitando que ele é Senhor? Ignorando aquilo que não te agrada? Contendendo com Cristo? Clame a Deus que lhe mostre o significado de seus ensinos e lhe diga como eles se aplicam a sua vida.

Termino reafirmando as palavras de Jesus de outro modo: o verdadeiro cristianismo não diminui a norma, antes a Igreja* perder adeptos do que aceitar qualquer ideia em nome da fraternidade. O próprio Cristo diz a nossa geração mimada (que "só quer amor"), que ele – e por isso a Igreja – não está disposto a fazer concessões para manter gente por perto. A Verdade exige que não se faça acordo, acerto, ajuste. Jesus é inflexível nas suas exigências (exigências que ele mesmo cumpriu em nosso favor). Quem achar ruim, tem todo a liberdade de sair e procurar outra religião (nós não mataremos, cortando-lhes o pescoço ou queimando vivos, dependurado), mas saia sabendo que no Evangelho, falo de Cristo e este crucificado, está as únicas palavras de Vida.
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¹ Total Depravity, Unconditional Election, Limited Atonement, Irresistible Grace, Perseverance of the Saints (Depravação total, Eleição incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível, Perseverança dos santos).
* Aqui falando também das igrejas locais, afinal são expressões da Igreja Invisível, o corpo de Cristo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Vinho ou Suco de Uva?

Embora haja certa razão em dizer "suco das uvas", vinho que ainda não fermentou, vinho não pronto, para justificar uso no sacramento (Santa Ceia), ou ainda de alegar que Jesus em Mateus 26;29, nada mais tenha expressado sobre o cálice, além de que era bebida fruto da videira. O termo usado nas inúmeras passagens bíblicas é melhor traduzido por vinho, e vinho é alcoólico (tanto que há vinho desalcoolizado) – seria bem estranho Noé ficar bêbedo com o suco de uva ou Paulo recomendar para não se embriagar com um refresco.

Mas aludir ao "vinho novo" para sustentar a proposta, é não compreender as ideias das parábolas: "outro vinho, outro odre", isso é, não o mesmo sistema ou holocaustos; é outro sacerdócio – Jesus aponta que seu ministério é novo, diferente, exclusivo, completo e efetivo, que não precisa ser renovado anualmente. Fora isso, é também ignorar que o sacrifício de Cristo foi na plenitude dos tempos, e não antecipadamente ou imprevisto.

Também acenar para a mistura ou diluição com água como uma possível solução da época, no interesse de diminuir os efeitos ébrios, além de ser um acinte a antiguíssima cultura do vinho, nada muda a presença do álcool na bebida, tornando tal solução inútil e mais, acaba por permitir certa insinceridade no símbolo em desconformidade com o que representa. Afinal das ilustrações que circundam o martírio de Jesus, deve-se afirmar a perfeição do mesmo (parece ser isso que o autor de Hebreus 12 sugere), Apocalipse 14;10 fala de um cálice preparado sem mistura, a ira de Deus, que será, no fim, derramado sobre os Seus inimigos, cálice que claramente Jesus tomou em nosso lugar e para o nosso favor (Isaías 53).

De igual modo, propor que o caso deva ser decidido em prol dos irmãos que lutam contra o alcoólismo é legislar sob flácidas bases humanistas. Será que existe essa doença, mesmo? Não seria apenas um engodo psicoantrologico pós-moderno? Talvez só medo ou fragilidade na fé? Puro legalismo, quem sabe? Daí não estariam mantendo a prisão ao não permitir que irmãos exerçam sua liberdade? Ora a verdade liberta! Além, é claro, de ignorar que domínio-próprio é fruto do Espírito.

Por fim dizer: é melhor, evita ser pego numa blitz da "lei seca"! É antes deixar o mundo reger a devoção cristã (que deve ser somente direcionada pela Palavra), e então um erro desnecessário: provavelmente, a quantidade de álcool nos minúsculos cálices, geralmente usados nas igrejas, é desprezível para registro da alcoolemia mínima legal, e possivelmente, os minutos de bate-papo no fim do culto, já seriam mais que suficientes para metabolizar todo ele. E mais, o nosso direito ao culto sem constrangimento – ao meu ver – é defesa suficiente para resolver um eventual processo penal.

Eu realmente creio que devíamos servir vinho (suco fermentado de uvas) na Ceia do Senhor, não vejo nenhuma razão bíblica para não proceder assim. Até o leve amargor de um cálice de vinho seco¹ serve de instrução. Louvo a Deus porque conheço algumas igrejas (ministros, oficiais e membros) fiéis e maduras que naturalmente compreenderam isso, e simplesmente começaram a servir vinho, indo na contramão de um evangelicalismo medíocre e legalista, tão comum e arraigado em nosso país.

Mesmo assim – já lembrando o fato que eu não sou abstêmio² – não faria voz favorável a tal debate, que dirá à minha posição. Que sentido há em arrumar confusão logo com o cálice da comunhão? Seria o teor alcoólico um símbolo tão evidente na celebração que seja imperativo, como é o suco do fruto da videira afirmado diretamente por Cristo? Ou ainda o esmagar das uvas em sua ligação inconteste com o sofrimento vicário do Salvador? Ou mesmo a coloração que lembra o Sangue? Devemos mesmo levantar essa discussão, agora, quando em nossas comunidades eclesiástica, alguns mal sabem achar um livro específico na Bíblia?
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¹ Para alguns o ‘vinho de verdade’, em contraposição ao ‘vinho suave de mesa’ que adicionam depois da fermentação açúcares para torná-lo mais doce e de simples deglutição.

² O que poderia ser até utilizado por mim para justificar meu consumo particular da bebida.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A grande pergunta de minh'alma

A pergunta que me faço sempre não é sobre a origem das coisas, do universo ou da vida, para isso tenho a Resposta: No princípio criou Deus o Céus e a Terra -- estou tranquilo! Nem é o que me perturba, questões sobre a Queda, do tipo: como o homem sendo bom, pecou e comeu do fruto proibido? Ou, por que sendo Deus todo-poderoso, não o impediu de cair? -- pra isso tenho 3 ou 4 respostas. Nem mesmo me consome, as razões da Eleição de uns e Reprovação de outros -- Deus é soberano, Ele faz o que quiser! O fato que me inquieta, é a decisão divina de não ter acabado com tudo; por que simplesmente não decretou o fim de todas as coisas? Que insanidade atingiu a Razão? Que amor louco é esse?