segunda-feira, 28 de junho de 2010

Manifesto Anti-fundamentalista

Fundamentalismo é o nome dado a um movimento que objetiva voltar ao que é considerado princípio fundamental (ou vigente na fundação) da religião, crença, fé ou escola de pensamento. A priori não é algo ruim, e estritamente falando do cristianismo, sendo a única verdade – sinto muito (na verdade, não) nesse ponto sou bem fundamentalista; salvação só em Cristo! – ser fundamentalista, a rigor, ou seja, buscar viver de acordo com os fundamentos do cristianismo, deve ser a nossa única busca.

É importante dizer que, em algum nível, todos somos fundamentalistas (e, nesse caso, digo todos nós seres humanos). O que nos torna diferentes é o que consideramos ser um verdadeiro fundamento e qual é a interpretação inequívoca desse fundamento. Mas isso é especulação da epistemologia e não é o caso deste texto.

Ocorre que meu objetivo com esse manifesto Anti-fundamentalismo, era falar – mal – do fundamentalismo cristão! Mas antes eu me vi obrigado a dar tantas explicações e fazer tantas ressalvas que quase desisti de postar sobre o assunto em si, e mais, estive a ponto de me declarar oficialmente um fundamentalista. Então, para definir bem o alvo desse manifesto (e evitar ser ainda mais longo), direi a quem ele não é dirigido, isso é, meu 'ataque' não vai para quem é teologicamente simples, nem para quem é desconhecedor da disciplina, muito menos para quem apenas repete alguns conceitos (embora que para esse último cabe a crítica a essa fé cega).

Para tanto resolvi postar (com a devida autorização) sob o signo Manisfesto Anti-fundamentalismo, o apêndice B, do excelente artigo produzido por Renato N. Fontes. Creio, pela leitura e rápida conversa que tivemos que nossas visões acerca do tema são semelhantes, e por isso mesmo faço minhas as palavras dele.

Na verdade não há ataque, o que quero mesmo é chamar sua atenção. Será que você é um fundamentalista? Ou melhor, quanto você é fundamentalista? Será que na busca de ser correto, você não tem se 'esquecido' de já ser o que você já sabe que deve ser?

Um olhar crítico [i] sobre a visão de mundo dos fundamentalistas

Examinando a literatura produzida por alguns fundamentalistas, espalhada abundantemente pela internet, podemos dizer que são irmãos em Cristo, apesar dos pesares, e pessoas que levam a sério seu cristianismo – exceto, com certeza, na campanha difamatória que promovem contra quem pensa diferente deles – e que amam a Deus, crendo em todas as doutrinas cristãs essenciais. Seus tratados de teologia sistemática são muito bons, e colocam de forma bem didática os pilares do cristianismo protestante. Ainda assim, são claras suas posições intolerantes para com quem discorda deles em pontos de importância periférica da doutrina, usando abundantemente de falácias – nem sempre intencionalmente ou por maldade, é bom que se diga.

Alguns desses fundamentalistas usam falácias conforme a sua conveniência. A preferida deles, que pode ser vista em quase todos os textos que produzem, é a da "culpa por associação". Essa falácia consiste em associar as pessoas a idéias de outras pessoas apenas por causa de uma simples concordância em outra área qualquer.

Por exemplo[ii]: imaginemos que um espírita kardecista, que, assim como eu, é contra o aborto, faça um abaixo-assinado para que o Congresso Nacional não legitime essa prática, pedindo assinaturas. Eu assino o manifesto. Desta forma, usar a falácia em questão seria dizer que eu defendo idéias do espiritismo só por causa disso.

Outra falácia que usam muito é o argumento ad hominem, que consiste em descartar o conteúdo de qualquer coisa só por causa de alguma falha na pessoa que propôs essa coisa. Por exemplo[iii], procuram destruir a reputação de qualquer um que tenha participado de alguma pesquisa científica que diminua a importância do Texto Recebido – Wescott e Hort são suas vítimas preferidas. Desacreditando a conduta dos dois, acham que assim tudo que foi dito por eles perde o valor.

Infelizmente, não são só as traduções bíblicas as vítimas da visão de mundo dos fundamentalistas. Eles enxergam o mundo sob um prisma eurocêntrico e americanocêntrico, culturalmente falando. Para eles, a Bíblia sanciona a cultura ocidental e todas as outras são demoníacas. Os instrumentos musicais usados pelos africanos, como as tumbadoras e os atabaques, são chamados de "instrumentos mundanos" – fico imaginando se algum fundamentalista acredita que existam "instrumentos celestiais". Não conseguem enxergar que a Europa também já foi completamente pagã, tal como a África. Aliás, a forma como enxergam a cultura é bem peculiar. Condenam, por exemplo, as palmas na liturgia, bem como as harmonias dissonantes e complexas, e qualquer ritmo que sugira dança, aceitando apenas aqueles que soem como "marcha". De onde tiraram tais conclusões, realmente não faço idéia.

Na Bíblia que eles lêem está escrito "celebrai com júbilo ao Senhor" e “louvai-o com tamborins (adufes) e danças”. Mas, ao contrário, eles dizem que canções que usem as emoções não podem ser usadas na liturgia. Segundo eles, "em espírito e em verdade" exclui as emoções - quando, ao contrário, adorar "em espírito e em verdade" é a antítese de várias das restrições impostas pela lei mosaica, como lugar e modo. Adorar em espírito significa adorar com liberdade, inclusive de usar a cultura para glorificar a Deus. Foi Deus que concedeu a capacidade ao homem de criar, de produzir coisas belas e chamar isso de cultura.

Quando a Bíblia diz "ama ao Senhor de todo o teu coração e com todas as tuas forças", isso significa "com tudo que você é e pode fazer", e isso inclui suas emoções – o errado não é senti-las, mas depender delas. A teologia de suprimir as emoções ou qualquer sensação de prazer (inclusive o prazer de se ouvir uma bela melodia), como se isso por si só fosse pecaminoso, veio da filosofia grega, que por sua vez entrou no gnosticismo, que por sua vez contaminou o catolicismo através das práticas ascéticas dos monges. Aí está a ironia, os fundamentalistas, tão anticatólicos, agem como católicos.

Por falar em anticatolicismo, essa é outra característica marcante e incoerente de alguns fundamentalistas. É verdade que o catolicismo distorceu muito do verdadeiro Evangelho com doutrinas estranhas à Bíblia, colocando suas tradições em indevido pé de igualdade com as Escrituras. Por outro lado, vale lembrar que o Protestantismo tem apenas 5 séculos. Antes da Reforma, o cristianismo não estava morto e nem o Espírito Santo estava de férias. A literatura fundamentalista procura, de forma surpreendente e ridícula, distorcendo fatos históricos, mostrar que sempre houve, desde o tempo dos apóstolos, verdadeiros cristãos que não eram católicos.

Acontece que isso não é verdade. Essa teoria pseudo-histórica se tornou popular no início do século XX, através de um panfleto de James Milton Carroll, um pastor batista americano, chamado "Um rastro de sangue" (A trail of blood). James tenta mostrar que os batistas existiam desde o tempo apostólico, sobrevivendo sob diferentes nomes, como "montanistas", "paulicianos" e "valdenses". Se foi ignorância histórica ou farsa deliberada eu não sei, mas o fato é que os montanistas tiveram entre seus membros o teólogo Tertuliano, extremamente legalista e idealizador de, entre outras coisas, a teologia dos pecados "mortais" e "veniais" do catolicismo, além de ter sido o primeiro que se tem notícia a diferenciar os crentes comuns dos "sacerdotes".

Os montanistas eram adeptos de várias práticas heterodoxas, baseados em visões e supostas profecias. Nenhum batista fundamentalista de hoje se identificaria com eles. Os paulicianos eram dualistas, assim como os gnósticos, ou seja, criam em dois deuses, um mau, criador do mundo material, e outro bom. Os valdenses surgiram por volta de 1170, através de Pedro Valdo, que no início era completamente católico. Apenas depois o grupo rompeu com Roma. E mais, não é provado que tenha havido qualquer continuidade entre esses grupos, pelo contrário, são completamente isolados uns dos outros. Em outras palavras, o cristianismo foi preservado, através da Idade Média, pelo catolicismo ortodoxo e romano, quer queiram quer não.

Foram os cristãos dessas igrejas, ainda que de forma imperfeita, que preservaram a fé cristã, apesar de todas as falsas doutrinas acrescentadas ao Evangelho. Para os fundamentalistas, qualquer autor protestante que se atreva a citar um autor católico é execrado. Não é de se admirar que a literatura fundamentalista jogue lama em homens de Deus como Billy Graham, C. S. Lewis e Philip Yancey, apenas pelo “crime” de citarem autores católicos com freqüência. Essa é uma incoerência surpreendente, já que Lutero e Calvino beberam profusamente da fonte de Agostinho de Hipona e vários outros católicos.

Outra característica marcante de alguns fundamentalistas ainda mais radicais é que não conhecem muito bem o significado da palavra "graça". São eles que brandem energicamente cartazes com palavras de ódio do tipo "vocês vão queimar no inferno" sempre que acontece uma parada gay, mas nunca se dispõem a amar essas pessoas, ouvi-las e serem suas amigas. É verdade, os que perecem sem Cristo e não estão dispostos a abandonar o pecado vão sim queimar no inferno, foi o que Jesus disse. Porém, a mensagem de Jesus consiste primeiro em amar as pessoas - você nunca vai poder falar em inferno para alguém que você não ama, para alguém que nunca comeu uma refeição junto com você e nunca foi seu amigo, para alguém que você não se importa com seus problemas.

Para esses fundamentalistas, por outro lado, que proveito há em ser amigo de um "sodomita"? É muito fácil demonstrar ódio assim, quando são os outros. E quando um filho de um fundamentalista não consegue orientar seu instinto sexual da forma bíblica[iv] e só sente desejo por pessoas do mesmo sexo? Como é que eles reagem? Gostaria de saber também. Não vai ser com cartazes carregados de ódio, praticamente comemorando a condenação eterna dessas pessoas, dançando alegres sobre as cinzas de Sodoma, que essas pessoas serão ganhas para Cristo.

Não bastasse isso tudo, os fundamentalistas amam as teorias conspiratórias. A internet está farta de material que afirma, entre várias coisas, que os jesuítas seriam culpados por todos os conflitos da humanidade nos últimos 500 anos, que o papa de verdade é um joguete nas mãos do líder dos jesuítas, chamado pelos fundamentalistas de "papa negro". Não é só a suposta conspiração para destruir a integridade da Bíblia que eles acreditam, infelizmente, são muitas outras as "fábulas profanas e de velhas caducas" (I Tm 4:17). Tudo para a vergonha do Evangelho que eles dizem defender.

Qualquer um que já tenha lidado com pessoas que acreditam em teorias conspiratórias sabe que elas são difíceis de se convencer. Tente conversar com um marxista fanático, por exemplo, e tentar convencê-lo de que a luta de classes e o capitalismo não são a causa de todos os males da humanidade...

Voltando às velhas falácias ad hominem e da “culpa por associação”, os fundamentalistas detestam que se defenda o meio ambiente. Afinal, quem mais defende a preservação do planeta para as gerações futuras, hoje, são justamente os esotéricos e os mesmos que defendem o aborto e os direitos dos homossexuais. Assim, se você tentar convencer um fundamentalista a colaborar com a diminuição do aquecimento global, eles vão dizer que isso é coisa de “esquerdista liberal”.

Além do mais, sua escatologia é toda baseada em “interpretar os sinais da vinda de Jesus”, e, afinal, “se Jesus está voltando, para que eu vou melhorar este planeta?” Mais uma vez se vê a falta de coerência – se Jesus está voltando e todos nós vamos morrer um dia, por que os mesmos fundamentalistas não entopem suas artérias de colesterol, abusando de uma alimentação pouco equilibrada? Ah, nosso corpo é templo do Espírito Santo? Sei...

Acontece que a terra é o “estrado de Seus pés”, segundo Jesus. Deus colocou o homem no jardim e ordenou que cuidasse de toda a criação, dando nomes aos animais, e não que a destruísse. Não consta que essa ordem tenha sido revogada com a Queda, ainda que o Jardim não exista mais. Basta ler o salmo 8, que afirma expressamente que Deus colocou o homem acima de todos os seres criados.

Afinal, que qualidade de ar nossos filhos vão respirar? Quem é você, oh fundamentalista, para marcar a data da vinda de Cristo, como se fosse certo que ela fosse acontecer em menos de uma ou duas gerações? Enquanto o Corpo de Cristo não faz nada, infelizmente são os “esquerdistas liberais” que estão defendendo[v] o meio ambiente, atitude essa que faz parte do amor ao próximo que a Bíblia dos fundamentalistas ordena.

Já que falamos de criação e meio ambiente, os fundamentalistas são extremamente literalistas na sua leitura do Gênesis. Refiro-me à crença de que, contrário a tudo que se pode mostrar como evidência científica de que esta terra foi criada há alguns bilhões de anos, os fundamentalistas insistem em dizer que a terra é uma “jovem” de apenas 6.000 anos. Até aí tudo bem, afinal essa leitura de Gênesis 1 não é necessariamente conclusiva e pode dar a entender isso, apesar das evidências científicas.

Além do mais, tenho vários amigos que não são fundamentalistas e também pensam assim. O problema é que, para os fundamentalistas, se você não crê numa terra jovem, você é liberal e está solapando uma doutrina central do cristianismo. Se você ventilar a possibilidade do dilúvio não ter sido nos cinco continentes, então... Só para efeito de esclarecimento, Gênesis 1 utiliza linguagem poética, fazendo uso do paralelismo da poesia hebraica – basta notar a repetição de algumas expressões. Na linguagem poética, é comum usar várias expressões com sentido figurado, inclusive “dia”, “tarde” e “manhã”.

Você pode sim ser um cristão fiel e aceitar que a terra tem alguns bilhões de anos. E mais, quando Gênesis diz que o dilúvio destruiu toda a terra, não necessariamente se referia ao planeta, mas possivelmente à terra habitável pelos homens na época – afinal, colocar todos os animais dos cinco continentes dentro de uma arca de pouco mais de cem metros de comprimento é um pouco complicado, embora eu saiba que Deus é poderoso para fazer isso e muito mais.

Dentro da mesma lógica distorcida que os impede de defender o meio ambiente, os fundamentalistas não admitem que a Igreja do Senhor se envolva na luta pelos direitos humanos, no combate ao aborto e na pressão sobre os governantes para que haja leis mais justas. Tampouco admitem que os crentes se envolvam em obras sociais. É verdade, existe o tal “evangelho social”, que reduz a mensagem de Cristo apenas à satisfação das necessidades materiais e ignora a parte mais importante, que é a redenção e o perdão dos pecados.

Por outro lado, mesmo que o evangelho social seja uma distorção, ainda assim pregar contra a injustiça social é amar o próximo, mandamento bíblico. Os profetas pregaram contra a opressão aos órfãos, viúvas e pobres, e devemos sim fazer o mesmo. Cristo vai elogiar as ovelhas, conforme Mateus 25, por alimentarem os famintos e darem água aos sedentos, além de vestir os necessitados e visitarem os prisioneiros. Os fundamentalistas, lamentavelmente, passam uma “tesoura dispensacionalista” nessas passagens. Por que não passam a mesma tesoura sobre o mandamento de dar a vida pelo próximo, por questão de coerência?

Em resumo, não creio serem os fundamentalistas pessoas mal-intencionadas, ao contrário do que eles dizem dos tradutores das versões modernas, mas com certeza são cegos guias de cegos, que pregam fábulas profanas e de velhas caducas (I Timóteo 4:17).
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[i] Este apêndice não tem o propósito de denegrir a imagem de quem quer que seja. Desta forma, não serão citados nomes nem textos específicos. O que será analisado, de forma crítica, será a visão de mundo fundamentalista, por acreditar eu que a forma como as pessoas entendem cada aspecto da vida ajuda a entender o propósito de suas palavras e ações. Muitas vezes, no entanto, as pessoas agem de forma incoerente. Acreditam, por exemplo, que a honestidade é uma virtude, mas distorcem os fatos conforme a sua conveniência. Acreditam na imparcialidade, mas agem com parcialidade. Acreditam na justiça, mas muitas vezes usam pesos e medidas diferentes. Todo ser humano (inclusive eu), vez por outra, comete esse tipo de erro, uma vez que nossa natureza é caída e manchada pelo pecado.

[ii] A literatura fundamentalista está repleta dessa falácia, especialmente contra os artistas de rock cristão e contra os tradutores das versões modernas da Bíblia. Podemos citar dois exemplos de como isso ocorre. Um determinado artista cristão cantou uma música dos Beatles numa apresentação. Os Beatles, por sua vez, gostavam de religiões orientais, pregavam a rebeldia e outras coisas. Pronto, o artista em questão virou um adepto da rebeldia e das religiões orientais, provando assim que o estilo musical que ele canta é demoníaco. O problema é que esses fundamentalistas nunca têm a honestidade de mencionar que Paulo citou autores pagãos em pelo menos duas ocasiões (por exemplo, "as más conversações corrompem os bons costumes") e que Lutero usou músicas do folclore alemão, muitas vezes cantadas em tavernas, e colocou nelas letras cristãs. Outro exemplo é que a editora que publica a NIV nos EUA pertence a uma outra, que por sua vez tem uma subsidiária que publicou a chamada "Bíblia Satânica". Pronto, está feita a associação indevida. Mais uma vez eles não são honestos ao colocar todos os fatos: vi, uma vez, na mesma prateleira de uma livraria, a Bíblia ACF (Almeida Corrigida Fiel), que eles tanto veneram, e uma revista pornográfica, quase lado a lado. Será que seria honesto da minha parte usar a mesma falácia contra a ACF? Ou não seria mais verdadeiro admitir que, tanto a livraria quanto a editora, são empresas que visam o lucro e não se importam com o conteúdo do que vendem, e só se interessam pelo dinheiro? A editora não é responsável pelo conteúdo, mas pela venda. Só que isso os fundamentalistas nunca contam.

[iii] Além disso, dizem que a NIV em inglês defende o homossexualismo porque, supostamente, havia dois "homossexuais depravados" (palavras dos próprios fundamentalistas) na equipe daquela tradução. É decepcionante como eles usam dois pesos e duas medidas, não usando os mesmos critérios para as traduções que eles veneram. Será que eles sabem quantos "gananciosos depravados" havia na equipe que produziu a KJV? Ou quantos "gulosos depravados"? Ou até mesmo quantos "homossexuais depravados" – será que eles pesquisaram a preferência sexual de todos os tradutores da KJV? Aliás, por que apenas os homossexuais são depravados e os que cometem outros pecados não o são?

[iv]Isso é, relação sexual entre um homem e uma mulher, exclusivamente "dentro" do casamento.

[v]Embora caiba críticas a esse “cuidado” a exemplo do recente incidente envolvendo alguns ativistas e o estado de Israel, quase não há ação ecológica associadas a entidades cristãs, e se você nega que o mundo está em colapso, você se encaixa na descrição do texto. (nota escrica por mim)


obs.: Sugeri algumas pequeníssimas alterações em alguns termos do texto original (acessar texto original), especialmente para o leitor deste blog. Essas alterações estarão grafadas em itálico e se houver alguma discrepância ou erro nessas palavras atribuam-no a mim.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sinceros, mas enganados!

O único Caminho:
postado originalmente em 26 de fevereiro de 2010

Como filho desta geração, nascido nesse caldeirão de misticismo travestido de piedade, eu vi muita coisa acontecer: o dente de ouro, o cair no espírito, a unção do riso ou do choro, os encontros... “é tremendo”. Depois descobri que isso tudo tinha acontecido 20 ou 30 anos atrás, em outros lugares do mundo, e como aqui pouco tempo depois, esses que foram ungidos, que receberam o poder, estavam, se não pior, do mesmo jeito que antes, e buscavam novas unções para si. Reafirmo: esses movimentos não me impressionam, se isso é do Espírito, devo admitir que o “Espírito” está atrasado.

Essas práticas “novas” – já não tão novas assim – esses costumes diferentes, esse misticismo, essa necessidade pelo novo, inusitado, essa absorção de elementos heterodoxos nas igrejas, me lembraram uma das muitas experiências vividas por Israel durante os 40 anos de peregrinação no deserto, registradas no Livro do Êxodo, no cap. 32; 1 a 6:

"Mas, vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão e lhe disse: Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós; pois, quanto a este Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe terá sucedido. Disse-lhes Arão: Tirai as argolas de ouro das orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas e trazei-mas. Então, todo o povo tirou das orelhas as argolas e as trouxe a Arão. Este, recebendo-as das suas mãos, trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido. Então, disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito. Arão, vendo isso, edificou um altar diante dele e, apregoando, disse: Amanhã, será festa ao SENHOR. No dia seguinte, madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se. "

Moises subiu ao monte Sinai e passou ali 40 dias, durante os quais Deus escreveu com o próprio dedo nas tábuas de pedra as Palavras da Aliança. Mas o que chama a atenção nessa passagem, é a volição do povo de Israel. Bastaram 40 dias, a ausência de Moisés, e o povo perverteu o coração. Esse povo se sentia abandonado, então corre atrás do sacerdote que, pressionado, cede ao pedido multidão: “faça-nos um deus que vá adiante de nós”. Sem ter coragem de dizer não, Arão pede todo ouro para trabalhar em prol desse projeto. Surpreendentemente o povo pega todo o ouro que possuía, unidos como um só e ofertam para esse deus. Um detalhe ainda mais surpreendente é que ao término da fundição do bezerro, Arão não só faz um altar na frente dele como, também, conclama festa santa ao Senhor.

É preciso compreender quem era esse povo. Eles conheciam bem a Deus. Eles viram as 10 pragas; passaram a pés secos pelo Mar Vermelho; comeram o maná e as codornizes enviados por Deus; beberam água da rocha em Refidim; em batalha, venceram aos amalequitas e no pé do Sinai, eles receberam do Próprio Deus, os 10 mandamentos. De dia, a presença do Senhor os conduzia na jornada pelo deserto com uma coluna de nuvens os protegendo do sol escaldante; à noite a proteção e direcionamento vinham da coluna de fogo que aquecia e iluminava a fria escuridão.

Esse povo tinha grandes experiências sobrenaturais com Deus. Ele era o povo escolhido, era para eles que Deus se revelava. Mas essas experiências sobrenaturais não foram acompanhadas de obediência à palavra de Deus. Talvez, é aqui que a Igreja da atualidade mais se parece com Israel. Nós também queremos mais, e este mais é quase sempre dissociado de real devoção e obediência a Deus. Assim como era para eles, nós também temos a revelação de Deus. Só que para nós, ao contrário do que muitos pensam, Deus está mais próximo. O advento de Jesus, sua morte vicária, substitutiva, nos religou a Deus. Ou seja, tudo o que Israel esperava, para nós é algo concreto, realizado. Mas não é só isso, para que a Palavra de Deus chegasse às mãos de Israel foram necessários 40 dias e as tábuas de pedra. Para nós, em contrapartida, é só abrirmos a Bíblia, bonita, pequena ou grande, de vários modelos, acessível praticamente a todos. Mas mesmo assim queremos mais.

É aí que mora o perigo. O povo sabia onde estava Moises, e parte da vontade de Deus já havia sido claramente revelada. Mas eles tinham necessidades, precisavam de um deus que os atendesse, um deus presente, “próximo”, mais simples, mais fácil. Para atender a necessidade do povo, que pedia “mostra-nos Deus”, Arão faz um bezerro de ouro. O povo não queria outro deus. Na passagem, na maioria das traduções a expressão é: “faze-nos deuses que vão adiante de nós”, mas no original hebraico o termo traduzido por deuses é Elohin, a mesma expressão usada para descrever o Criador em Gn 1;1. E o que foi traduzido como “faze-nos” pode ser facilmente entendido como “mostra-nos”. Aqui percebe-se onde o povo errou. Deus, o único, é quem dita as regras. É ele quem se revela, não adianta o povo insistir, é Deus que coordena as agendas, como um rei, é ele quem controla os encontros e audiências. Não que o povo estivesse realmente abandonado ou perdido. As narrativas anteriores mostram que os anciãos e todo povo é chamado para congregar com Deus. Mas esse mesmo povo que pergunta a Arão: “Onde está Deus?”- Amedrontado, não quer ouvir diretamente a Deus, e prefere que Moisés seja o intermediário (Ex 20;19). É assim conosco também, a igreja do nosso tempo é uma igreja que não quer ouvir a voz de Deus que fala nas Escrituras. Corremos atrás de um modo mais fácil, mais acessível, mais simples e controlável. Queremos intérpretes, mestres, ungidos que nos mostrem Deus. 

Erguemos nossos altares diante da imagem que fazemos ou que fazem de Deus para nós. Essa imagem não é, necessariamente, de gesso, de barro ou de ouro, mas sim qualquer simplificação, ou seja, qualquer intenção de minimizar Deus destacando uma ou outra de suas características, em detrimento da plenitude de seu próprio Ser. Buscamos o Deus que cura, ou que liberta, ou que faz prosperar. Achegamo-nos a ele e o cultuamos na expectativa de recebermos suas dádivas. É nesse momento que nos distanciamos da vontade de Deus, e, como no caso de Israel, podemos nos tornar idólatras.

Bastou apenas um pequeno desvio, um errinho simples – lembre-se aquele bezerro era tão somente a representação de IAVEH, o Deus que os tinha tirado do Egito – e o povo claramente quebrou o 2º mandamento. Talvez toda essa história, à primeira vista, não tenha muita relação com as nossas experiências. Mas, assim como Israel tropeçou e caiu na idolatria, nós também, se não prestarmos atenção, nos tornaremos idólatras e estaremos passíveis da mesma condenação. A sinceridade de Israel nessa passagem não é questionável. A idolatria deles não está em quererem outro deus, mas em fazer para si uma imagem do Deus libertador. O bezerro era a figura de um dos deuses egípcios. O que Israel fez foi misturar o que foi revelado (Ex 20) com o que era cultural. Tal mistura produziu idolatria. 

Não é diferente para nós. Buscamos um relacionamento com esse deus fragmentado, pequeno, controlável – eu sirvo a Deus do meu jeito, dizem – Queremos o poder de cura ou o de libertação, e queremos do nosso jeito, no nosso tempo, e forçamos uma interação com a divindade: “eu determino...”, “receba, receba...”, “Deus vai opera hoje aqui, você crê?” Não estamos dispostos a obedecer à voz do Único Deus soberano, o Deus Revelado, de quem, com reverência e santo temor, devemos nos aproximar de acordo com suas próprias orientações. Misturamos o Deus da Bíblia, com conceitos culturais, pensamentos filosóficos ou afirmações cientificistas; a “onda” é interpretar a Bíblia e o Deus da Bíblia a partir do sentimento, para isso usam até a “física quântica”. Não se engane isso é espiritismo barato, que se apropria de teorias científicas para introduzir valores e conceitos fora da Bíblia, diminuído Deus, é exaltando o homem e sua pretensa decisão ou liberdade. 

Cuidado! Erros sutis provocam grandes desgraças, introduzir uma mentira para fazer a verdade ser mais facilmente aceita, é sacrificar a ídolos! É trazer fogo estranho ao altar! A condenação é certa, e o castigo de Deus é duro. A desobediência leva à morte, só nessa ocasião cerca de 3000 homens foram mortos por ordem de Moisés (Êxodos 32;28). Nadabe e Abiú, filhos de Arão, morreram porque fizeram o que Deus não tinha ordenado (LV 10;1 e 2). Uzá morreu junto a Arca da Aliança, pois por zelo, tentando impedi-la de cair, tocou na Arca, e isso era proibido (2 Sm 6;6 a 8).

Sinceridade não é sinônimo de verdadeira adoração, Jesus afirma que os samaritanos cultuavam a Deus no monte Gerizim (Jo 4;22), mas sem conhecimento da vontade de Deus, esse culto era tão condenável quanto a hipócrita observância das leis do templo pelos judeus. As pessoas podem estar sinceramente enganadas, e isso não as fará menos enganadas. É o conhecimento da Verdade que liberta (Jo 8;32) e não a sinceridade que nos torna aceitáveis.

Por fim, a omissão é igualmente culpada, Arão foi responsabilizado pelo desvio do povo, e só não morreu pela intercessão de Moises (Dt 9;20). Tolerar o erro, não é o mesmo que amar o irmão que erra. Somos chamados, vocacionados, capacitados pelo Senhor, com dons (Ef 4;7) para ensinar – trazer conhecimento da Verdade que liberta – com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado (Ef 4;12) e não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro (Ef 4;14). Será que estamos atentos a isso (2Pe 3:17)? Estamos conferindo nossa rota no mapa que é a Bíblia (2Jo 1;9)? Será que o nosso culto é feito como Deus nos instruiu (Jo 14;21,Hb 11;6, 1Co 11:23)? Ou temos trazido elementos do Egito (Lc 21;34)? É fogo estranho que temos em nossos púlpitos (2Pe 2:1)? Ou o martelo que esmiúça a penha, o fogo consumidor (Jr 23;29), a Verdade que liberta (Jo 8;32), a Palavra de Deus que é apta para discernir as intenções do coração humano (Hb 4;12)?

Em Cristo,
Esli Soares

p.s. O texto foi escrito para ser publicado como comentário ao meu texto no link: http://ricardomamedes.blogspot.com/2010/02/recado-do-ungido-recado-recebido.html, ocorre que o Ricardo (meu irmão em Cristo, um grande amigo e incentivador) resolveu publicá-lo em seu blog. Aprouve republicá-lo agora.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sola Scripturae! Quae Scripturae?

Versões Bíblicas:
por Isaías Lobão Junior em 22 de dezembro de 2008


Existem muitas versões da Bíblia em português. Quem visita uma boa livraria evangélica pode conferir o que estou dizendo. Bíblias de vários tamanhos, formatos e versões. Porém, alguns cristãos não acreditam que essa diversidade seja benéfica. Muitos crentes sinceros defendem a primazia de uma versão bíblica sobre as outras com o argumento que as preferências textuais das novas versões enfraquecem a fé cristã.

Grande parte desses irmãos importou uma discussão teológica anglo-americana para nosso país. Lá existe um debate acirrado entre dos defensores da (boa, mas não infalivel) Authorized King James Version (1611) e os defensores das modernas versões, tais como American Standard Version (1901), New International Version (1978) e a English Standard Version (2001).

Entre nós a versão defendida como sendo a “única versão autorizada” é a versão de Almeida conhecida como Almeida Corrigida Fiel (ACF) publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana. Porém, eu entendo que a inspiração bíblica diz respeito aos autográfos, os quais pela providência de Deus, pode-se determinar com grande exatidão a partir de manuscritos disponíveis. A minha opinião é que não existe uma tradução "autorizada". As diversas versões bíblicas são a Palavra de Deus, como é dito na Declração de Chicago, na medida em que fielmente representam o original.

A sábia Confissão de Fé de Westminster afirma o seguinte:
Capítulo I. Da Sagrada Escritura. Parágrafo VIII. O Velho Testamento em Hebraico
(língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua
mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito),
sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e
providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e
assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como
para um supremo tribunal.

A Declaração de Chicago sobre Inerrância da Bíblia afirma o seguinte no artigo X:
Afirmamos que, estritamente falando, a inspiração diz respeito somente ao texto
autográfico das Escrituras, o qual, pela providência de Deus, pode-se determinar
com grande exatidão a partir de manuscritos disponíveis. Afirmamos ainda mais
que as cópias e traduções das Escrituras são a Palavra de Deus na medida em que
fielmente representam o original.
Além de tudo isso, não há uma passagem na Bíblia que me diz que somente uma tradução é a correta. Não encontro uma passagem bíblica que me diz que a Bíblia Almeida Corrigida Fiel (ACF) é a melhor ou é a única Bíblia "santa". Não existe nenhum verso que me diz como Deus preservará sua palavra, assim como não existe nenhuma autorização bíblica para afirmar qual versão é a verdadeira. Os argumentos devem ser fundamentados na crítica textual e na história da transmissão do texto.

Os estudiosos bíblicos desenvolveram através dos anos, certos critérios, buscando refazer os caminhos que um texto tomou até chegar a suas mãos. Este estudo é chamado de crítica textual. “A crítica textual não se interessa pelo sentido do texto, não é análise literária do texto ou coisa semelhante. Apenas procura verificar a confiabilidade das cópias do texto que chegaram até nós e reconstituir o texto na sua forma mais confiável” [1].

Para a reconstituição do texto original as variantes textuais devem ser julgadas dentro de três critérios:

1) O critério das evidências externas: As evidências externas são os manuscritos mais antigos e confiáveis atestados por diversos testemunhos, tais como, as citações dos Pais da Igreja, antigas versões, lecionários, outras famílias de manuscritos e a distribuição geográfica dos textos.

2) O critério probabilidade intrínseca: Este critério está baseado no estilo e vocabulário do autor através de cada livro e na teologia conhecida do autor nas passagens paralelas em outros livros.

3) O critério da probabilidade de transcrição: Ao analisar as variantes pela forma como eram transmitidos os textos antigos, chega-se aos seguintes critérios.

          a. A leitura mais difícil deve ser preferida, porque a tendência dos copistas era de facilitar a leitura.
          b. A diferença nas passagens paralelas, este critério é usado especialmente nos evangelhos. Porque a  tendência dos copistas era de harmonizar as passagens paralelas.
          c. A leitura mais curta sempre é preferível, porque a tendência dos copistas era de acrescentar detalhes.
          d. Deve-se escolher a variante que melhor se harmonize com o livro em questão.      
          e. Deve-se escolher a leitura que melhor explique a origem das outras variantes textuais.

A partir destes critérios, vamos analisar os argumentos que defendem a preferência que alguns irmãos fazem pela ACF. texto grego usado pela ACF é conhecido como Textus Receptus. É o texto do Novo Testamento representado pela terceira edição de Stephanus, de 1550, embora a expressão só houvesse surgido com Elzevir, em 1633. Em sua maior parte, esse texto grego é baseado em meia dúzia de manuscritos muito tardios (nenhum deles mais antigo do que o século XII d.C).

O chamado Texto Crítico foi usado na revisão da obra de Almeida conhecida como Revista e Atualizada e também foi utilizado na maioria das outras versões, como NVI, NTLH, entre outras. Ele é formado pelos cinco maiores MSS Unciais (conhecido por suas letras, Aleph, A, B, C, D), todos eles datados do quarto ou quinto século, como também as antigas versões e evidências patrísticas. Dois MSS em particular, B e Aleph, são muito importantes. Ambos vieram do quarto século.

Quais são os argumentos que confirmam a tese que o Texto Crítico é melhor do que o Textus Receptus? Apresento aqui três argumentos,[2] que considero conclusivos para a aceitação do Texto Crítico:

1) O Texto Bizantino (isto é, o grupo de MSS gregos por trás do Textus Receptus) não foi citado por qualquer Pai da Igreja antes de 325 d.C., enquanto que o Texto Alexandrino estava amplamente representado antes daquele período.

2) Em diversas partes, foi demonstrado que o Texto Bizantino era dependente de duas tradições antigas, o Alexandrino e Ocidental. Os primeiros editores do Texto Bizantino combinaram, o teor do Alexandrino e tradições Ocidentais. Segundo alguns, o Alexandrino combinou leituras Ocidentais e Bizantinas, porém, isso não poderia ser demonstrada a dependência do Alexandrino com as leituras Ocidentais e Bizantinas.

3) O Texto Bizantino, em exame mais íntimo, demonstrou ser inferior em seu teor, com a tendência de adicionar ou esclarecer passagens.

Uma forma de ilustrar o que estou dizendo é a análise de I João 5.7-8, a famosa Comma Johanneum. Segundo a NVI: “Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes.” O Textus Receptus acrescenta um longo trecho, aqui traduzido segundo a versão ACF: “Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num.”

Acredito que esse adendo é espúrio e não deveria constar em nenhuma versão da Bíblia. Várias razões sustentam minha posição. (1) Esta passagem não é encontrada em nenhum manuscrito grego antigo, exceto em oito manuscritos tardios, datados em sua maioria do décimo-sexto século! (2) A passagem não é citada por nenhum dos antigos Pais Gregos, que certamente a teriam usado nas controvérsias trinitarianas com os sabelianos e arianos. (3) Esta passagem também nunca foi encontrada nos manuscritos das antigas versões (siríaca, copta, armênia, etiópica, árabe ou eslavônica).[3]

Portanto, eu entendo que defender a ACF como a única versão verdadeira é uma falácia. Acredito que as diversas versões evangélicas da Bíblia são importantes auxílios para o entendimento correto da mensagem da salvação em Cristo. Não creio que ninguém possa medir a ortodoxia de um crente apenas pela versão bíblica que ele usa.

Se você quiser ampliar seus conhecimentos nessa área específica sugiro a leitura de um artigo que analisa mais profundamente esta questão. Ele foi escrito pelo Renato Fontes e está hospedado no site Monergismo. Veja aqui.

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[1] KONINGS, Johan. A Bíblia, sua história e leitura: uma introdução. p.236

[2] Os argumentos foram baseados em: WALLACE, Daniel B. The Conspiracy Behind the New Bible Translations. In: http://www.bible.org/page.asp?page_id=706.

[3] METZGER, Bruce M. A Textual Commentary on the New Testament (2nd edition), pp. 647-648.

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Obs.:Esse texto demostra parte das minhas convicções acerca da doutrina das Sagradas Escrituras, ainda na "pretenção" de atender a (minha) necessidade de definições mais claras.

Um outro material interessantíssimo pode ser visto aqui, trata-se de um trabalho apresentado pelo, então aluno, Isaías Lobão Junior, como texto exigido para a matéria de História das Religiões, na Universidade de Brasília. Posteriormente foi apresentado em forma de palestra no encontro da CEHILA (Comissão de História da Igreja na América Latina) entidade que coordena historiadores e pesquisadores interessados na história eclesiástica em nosso continente.

O texto foi levemente alterado.

sábado, 12 de junho de 2010

A música do meu momento

Situações

Situações nesta vida me fazem sentir, que não sou forte a ponto de até resistir
Nestes terríveis momentos os maus pensamentos me querem levar
A um extremo de vida, que meu equilíbrio se deixa enganar

Instantes que se prolongam tentando mudar, tudo que já se fez novo, pois Cristo mudou
Tentando hoje trazer, o que eu tento esquecer,
Sou vencedor e ninguém poderá me deter

Pois eu sei que jamais eu provado serei além do que eu possa suportar
Se ainda eu cair e pensar que é o fim,
Jesus me ergue e segue junto a mim

Grupo Logos                                                                                       

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O 'meu' calvinismo

Existem óbvios problemas com rótulos. Um deles é que, na tentativa de serem precisos, são grandes de mais – e por isso mesmo deixam de ser úteis – ou buscando serem concisos, acabam por serem imprecisos, trazendo consigo mais problemas que soluções. Sempre há quem se rotula “sem rótulos”, mas a impossibilidade lógica fica estampada não cabendo comentários, e – é claro – existem os generalistas, a despeito de suas razões – ao meu ver – além de apenas se esconder, agir sempre assim (mesmo que seja em nome do amor cristão), não ajuda a clarificar um assunto (por conseqüência não traz crescimento para ninguém).

Quando me intitulo calvinista, digo isso sabendo da imprecisão do termo, e de todos os problemas que ele acarreta. Mas, mesmo assim, ainda creio que ele define bem as minhas convicções. Entretanto, como tudo tende ao caos – inclusive os movimentos espirituais (Ex 34) – assim acaba que torna-se necessário o acréscimo de mais alguns adjetivos a essa sentença. E é nesse propósito de responder a (minha) necessidade de um posicionamento mais claro, escrevo esse artigo, baseado em algumas coisas que tenho lido ultimamente.

Citando o Rev.Augusto Nicodemus, eu, também, me considero um calvinista dentro da tradição teológica que elaborou e até hoje mantém a Confissão de Fé de Westminster (...), ou seja sou presbiteriano, mas o que isso que dizer?

1 – Creio em um Deus pessoal, inteligente, todo-poderoso, justo e bom que se relaciona com o homem e tem prazer nisso. Esse Deus predestinou tudo o que acontece. Ele determinou todas as coisas e traçou detalhadamente seus planos que são infalíveis. Ele está acima da força do ‘destino’ e não é preso pelo sistema de causas e efeitos e nem ao fatalismo filosofico. É, tão somente, por Sua Santa Vontade que as coisas ocorrem ou deixam de ocorrer. Creio num propósito para a criação do Universo, que embora esteja além da capacidade de compreensão humana, parte desse propósito está revelada (somente na Bíblia). Mas a exata forma (maneira) que nós (a Criação como um todo) cumprimos esse propósito, que é o louvor da Glória de Deus, não nos é revelado. Assim não me vejo obrigado a acrescentar ao termo cristão calvinista a informação ‘determinista bíblico’, mas é importante dizer que creio na determinação divina, conforme nos é revelado pela Bíblia e mais, somente Deus sabe (por ser Ele mesmo quem determina) exatamente o que está determinado (Atos 1;8), entretanto, a Bíblia não é (ou não revela) tudo o que está determinado, ela simplesmente revela quem determina tudo (O Deus trino da Bíblia).

2 – Por causa disso creio que Deus predestinou antes da Criação do Mundo, aqueles que serão salvos, e obviamente isso me leva a pensar que a perdição já era conhecida (ou determinada – não preciso explicar, certo?). Assim, acrescento à frase cristão calvinista, a idéia de infralapsariano. Ou seja, foi da massa dos caídos (todos sem exceção) que Deus, antes da fundação do Mundo decretou o exato número dos que seriam alcançados por sua muita graça, os incluíndo no plano especial do sacrifício substitutivo de Jesus.

3 – Não oro, nem evangelizo ou contribuo para a obra missionária pensando nos perdidos. Tão somente me interessa encontrar àqueles por quem Cristo morreu, principalmente por ser a tarefa que meu Senhor me designou (Mt 28,18 a 20). Como Ele me amou primeiro me convém ama-lO também. Lembrando que aquele que obedece aos seus mandamentos (de Jesus), esse é quem realmente o ama. Por um amor aos humanos como meus iguais, luto pela paz, igualdade, educação, saúde – enfim – direitos básicos! Sabendo, entretanto, que essas conquistas nada representam quanto à eternidade, nem ao meu favor – como se minha salvação dependesse dessas boas obras – nem a favor dos que recebem ou são beneficiados por esses “avanços” – como se fossem (marcas) do próprio Evangelho da salvação. Assim acrescento a idéia de missiológico.

4 – Respeito profundamente os pensadores, teólogos e os cristãos, verdadeiros mestres, que vieram antes de mim, e tenho uma grande admiração por suas biografias e escritos. Entretanto, penso que a livre consulta das Escrituras e o meu direito (direito de todos) de interpretação das mesmas me dá a ousada capacidade de discordar deles, pois os esses não escreveram “palavras de Deus” e sim palavras sobre Deus. Entretanto deve-se com profundo carinho e grande atenção considerar essas palavras antigas e procurar diligentemente entende-las a luz do contexto sócio-cultural em que estavam inseridas. Por isso sempre me penso um calvinista contemporâneo.

5 – Creio na ação ‘sobrenatural’ do Espírito Santo ainda hoje, e óbvio, creio em milagres, prodígios e sinais (descritos na Bíblia e atualmente também), mas creio que a Revelação Especial já foi concluída. Creio que os grandes do passado (apóstolos e escritores da Bíblia) eram homens comuns, mas, por pura Graça de Deus, tornaram-se especiais por serem testemunhas oculares de Cristo e de seu ministério. Sobre a antiga aliança (Antigo Testamento), valido, pela fé, o que foi validado por esses grandes homens do passado, entendendo que eles são mais bem capacitados que eu para isso. Assim me considero um cristão tradicional, ou conservador. Não acredito no batismo com o Espírito Santo como segunda bênção e nem na necessidade de manifestação de algum dom especial para que alguém seja “batizado no Espírito”. Nunca falei em línguas estranhas e não creio na procedência divina de tal ação. Assim posso, com certeza, afirmar que não sou pentecostal ou carismático.

6 – Gosto de reconhecer ordem e organização, mas creio que a liturgia de uma igreja pode ser informal e simples, mesmo assim profunda e significativa. O culto deve ser feito totalmente para Deus, mas nesse processo, se for sincero, produzira inúmeras bênçãos aos que dele participam sinceramente. A pregação expositiva dirige a ordem cúltica, e o interesse maior das reuniões deve ser a edificação ou o crescimento na fé.

7 – Por uma interpretação simples e direta dos textos bíblicos escatológicos creio naquilo que chamam amilenismo; no Juízo-final histórico e real; na volta de Jesus em majestade e glória; na ressurreição do corpo no último dia; na condenação eterna, irrevogável e imutável para o Diabo, seus anjos (ou demônios) e para os que não confessaram a Jesus com seu senhor e salvador pessoal.

8 - De última hora acrescento que sou como criacionista, mas que fique claro que o que penso ser criacionista pode ser um pouco diferente do que costumeiramente é conhecido (ou declarado) como tal. Não que eu esteja a propor uma nova linha, mas apenas que estou aberto, uma vez que muitas coisas, sobre a Criação para mim não estão tão claramente expressas na Bíblia Sagrada.

Assim, aceito me rotularem como sendo um cristão calvinista, infralapariano, missiologico, contemporâneo, não-carismático, não-litúrgico, amilenista e criacionista.

Entretanto fico extremamente feliz de ser chamado “apenas” de filho de Deus – isso para mim já é o bastante.

Na paz daquele que é o meu senhor e salvador
Esli Soares

p. s.: A intenção do texto é apenas expor as minhas convicções, na medida do necessário ficarei feliz de defende-las. Essas definições estão sujeitas a serem revista sem aviso prévio, por dois motivos: pela própria mudança de opinião (o que acho difícil, mais não é impossível que aconteça) e pelo acréscimo (necessário) de mais informações.

p.p.s.: O texto tem, dentro outras, origem o artigo postado em O Tempora, O Mores: de autoria do rev. Augusto Nicodemus.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Por Isaías Lobão Junior...

“Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor”.


Romanos 14.8

Ao ler a Bíblia, na Nova Tradução na Linguagem de Hoje, me deparei com este texto, em Eclesiastes 8:8: Ninguém tem o poder de dominar o vento, nem segurá-lo. Assim também ninguém pode evitar a morte, nem deixa-la para outro dia. Nós temos que enfrentar esta batalha, e não há jeito de escapar.

O Pregador, autor do livro de Eclesiastes, fala aqui com muita clareza da inevitabilidade da morte. A existência humana é marcada com a espera do dia final de cada um de nós. Talvez você esteja se questionado se continuará a me ouvir, ou não.

Alguém já disse que a morte é o único assunto que não é mencionado nestes nossos tempos em que se fala de tudo. A tecnologia médica, o aumento da expectativa de vida dos cidadãos do mundo ocidental e o desejo ardente do ser humano pela imortalidade, tentam nos convencer que podemos vencer a morte. Porém, ignorar nossa mortalidade, não a afasta. As pessoas continuam morrendo, mesmo que tentem adiar o momento final.

Talvez não achemos difícil aceitar a morte como tal, visto que somos constantemente levados a encara-la em nosso meio ambiente. Mas, reconhecer que algum dia eu haverei de morrer, ou alguém bem próximo a mim, faz o assunto elevar-se da mera especulação acadêmica.

Fisicamente o ser humano morre como qualquer animal. Entretanto, é preciso lembrar que somente nós, humanos, temos consciência deste fato. Isto nos torna diferentes dos animais irracionais.

E a Bíblia? Como ela vê a morte? Precisamos conhecer a perspectiva bíblica sobre o assunto. Em primeiro lugar, a morte é vista como o juízo divino contra o pecado. Veja só em Romanos 6:23: Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. (NVI) Se a morte é conseqüência do pecado, então o poder da morte só poderá ser removido, se o pecado for removido da vida humana. E o texto acima é claro em afirmar que recebemos a vida quando estamos em Cristo. Não existe outra alternativa. Sei que não cabe muito bem enfatizar a singularidade de Cristo nestes tempos relativistas. Diriam alguns que não é politicamente correto ou no mínimo constrangedor, afirmar a mensagem da esperança humana somente em Cristo Jesus. Mas, nosso compromisso tem que ser com a verdade. E a verdade é essa: Só recebemos a vida eterna, através do sacrifício de Cristo, na cruz do calvário.

Em segundo lugar, a cruz alterou a forma da morte.

Para aqueles que confiam em Cristo, a morte não tem a palavra final. Temos uma esperança viva, que permanece mesmo quando o céu está nublado, quando nos encontramos desanimados e abatidos, quando o inevitável ocorre, somos renovados por esta ardente expectativa. A morte foi derrotada na morte de Cristo. Fora de Cristo a morte é o inimigo supremo, o símbolo da alienação de Deus. Porém, temos conosco a certeza das palavras de Jesus no Evangelho de João 5:24; Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida.

A cruz de Cristo é a esperança da glória final. Jesus olhava além da sua morte para a sua ressurreição, além dos seus sofrimentos para a sua glória. A esperança da glorificação torna o sofrimento suportável. A perspectiva essencial a desenvolver é a do propósito eterno de Deus. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. Rm 8:18.

A cruz de Cristo é a prova do amor solidário de Deus, isto é, sua solidariedade pessoal e amorosa conosco em nossa dor. Pois o verdadeiro aguilhão da morte não é o infortúnio em si, nem mesmo a sua dor ou a sua injustiça, mas, aparentemente, sermos abandonados por Deus. A dor pela perda é suportável, mas a aparente indiferença de Deus não é. Às vezes o vemos como alguém cansado de seus afazeres, tal como no filme Deus é brasileiro. Tirando uma soneca numa cadeira de balanço celestial, enquanto milhões de pessoas morrem e outras tantas sofrem por isto. Pensamos em Deus, como um espectador, desfrutando seu isolamento das criaturas finitas.

É essa terrível caricatura de Deus que a cruz desfaz em pedaços. Não devemos vê-lo numa cadeira de balanço, mas numa cruz. O Deus que nos permite sofrer, ele próprio uma vez sofreu em Cristo, e continua a sofrer conosco e para nós hoje. Cristo carregou os nossos pecados e morreu a nossa morte por causa do seu amor e justiça.

Uma peça de teatro, intitulada “O Longo Silêncio”, diz tudo[1]:

Bilhões de pessoas estavam espalhadas por uma grande planície, diante do trono de Deus. Alguns do grupo mais da frente conversavam calorosamente. Não falavam com reverência, mas em aberta beligerância. “Como Deus pode nos julgar?”, perguntavam. “O que ele sabe sobre o sofrimento?”, gritou uma loira. Arregaçando a manga de sua blusa, mostrou um número tatuado em um campo de concentração nazista. “Sofremos medo, açoites, torturas, morte”, continuou. Em outro grupo, um negro baixou o colarinho. “Que tal isto”?, exigiu mostrando uma feia queimadura provocada por cordas. “Fui linchado apenas por ser negro. Sufocamos em navios escravos. Fomos arrancados do convívio de nossos queridos, trabalhamos debaixo do chicote até que a morte nos aliviou”.

Grupos semelhantes se articulavam em toda aquela planície. Cada um se queixava de Deus pelo mal e sofrimento que permitiu no mundo que Ele mesmo criara. “O que Deus sabe sobre o que a humanidade suportou? Como Deus é feliz por morar no céu. Lá não há lágrimas, medo, fome, ódios. Deus leva uma vida bem confortável”, afirmavam.

Então cada grupo decidiu enviar um representante diante de Deus; escolhido pelo que mais sofreu. Havia um judeu, um negro, um marginalizado da Índia, um bastardo, uma japonesa de Hiroshima, um preso de um campo de concentração russo, uma mulher africana contaminada com HIV, cujos filhos morreram de fome.

Antes se reuniram no centro daquela vasta planície para se organizarem. Chegaram a um consenso. Antes que Deus se qualificasse para julgá-los, precisaria experimentar o que eles experimentaram. Decidiram sentenciá-lo: que ele viva na terra como homem.

Mas como era Deus, estabeleceram algumas salvaguardas. Ele não poderia se valer de seus poderes divinos para se proteger. “Que nasça judeu; que a legitimidade de sua paternidade seja questionada e que ninguém saiba com segurança quem foi o seu pai; que lidere uma causa tão justa e tão radical, que atraia o ódio e a condenação dos poderosos; que a religião oficial se esforce para eliminá-lo; que tente descrever o que nenhuma pessoa jamais provou, ouviu ou percebeu; que tente comunicar Deus aos homens; que seja traído por um dos seus amigos mais queridos; que seja indiciado com provas falsas; que seja julgado por um júri preconceituoso e que o seu juiz seja um covarde; que experimente o que é sentir-se completamente abandonado por todos; que seja torturado e que morra. Mas que sua morte seja a mais humilhante, e que morra ao lado de ladrões ordinários”.

À medida que cada líder anunciava a sua sentença, um murmúrio se espalhou pela planície. A aprovação parecia unânime! Mas quando o último expressou a sua sentença, houve um profundo silêncio. Ninguém se atreveu falar, ninguém se moveu. De repente, todos perceberam: – Deus já cumprira a sentença dos réus.

E em último lugar, a morte é um ganho para os crentes, porque estarão mais perto de Cristo. Não falamos sobre isto como escapismo e rejeição à vida, mas um anelo real de uma vida eterna com Deus, onde Ele enxugará toda lágrima e extirpará toda dor que arde em nosso coração.

Entre os crentes pode haver tristeza por causa da perde de um ente querido, mas essa tristeza é pela saudade que a pessoa deixa e não o desespero pela incerteza do seu destino final. Em nosso coração existe a firme convicção que nos encontraremos com Deus na glória. conforme o apóstolo Paulo afirma em Colossenses 1.27: O plano de Deus é fazer com que o seu povo conheça esse maravilhoso e glorioso segredo que ele tem para revelar a todos os povos. E o segredo é este: Cristo está em vocês, o que lhes dá a firme esperança de que vocês tomarão parte na glória de Deus. (NTLH).

No final dos anos 80, era moda entre alguns jovens evangélicos, o uso de um bottom com uma mensagem evangelística. Ele era bem grande e nele estava escrito: quem nasce uma vez, morre duas e quem nasce duas vezes, morre uma.

Isto significa dizer; aquele que nasce da carne, morre espiritualmente e fisicamente, porém, aquele que nasceu da carne e do Espírito, só morre fisicamente.

O céu parece não estar na agenda da igreja pós-moderna, que hereticamente o abandonou em troca das promessas anunciadas nas campanhas de fé, curas e prosperidade, carregadas do triunfalismo mundano, e não conforme o que a Escritura afirma.

Somos peregrinos e aguardamos a nossa pátria real, como disse o poeta cristão no antigo hino Anelos do Céu, conforme a letra do hinário Salmos e Hinos. (592).

Da linda pátria estou bem longe, cansado estou.
Eu tenho de Jesus saudade: quando será que vou?
Passarinhos, belas flores querem me encantar.
Oh! Vãos terrestres esplendores! De longe enxergo o lar.

De Cristo tenho aqui promessa: Vem me buscar.
Meu coração está com pressa; eu quero já voar.
Pecador e corrompido, mui culpado sou,
Mas, no seu sangue redimido, eu para a pátria vou

Qual filho do seu lar saudoso, cheio de amor,
Minha alma aspira ao bom repouso junto ao meu Senhor.
Sua vinda aqui é certa; quando não o sei;
Mas Ele manda estar alerta: Do exílio voltarei

As ideologias humanas surgem e são suplantadas por outras. O homem sem Deus vive abatido e sem esperança. Nunca se viu um tempo como o nosso. A apatia do pós-modernismo permeia com pessimismo todo projeto humano. Os cristãos por sua vez, são confiantes do futuro. Nossa esperança é um porto seguro onde podemos nos abrigar, em meio ao temporal do mundo.

Existe a firme certeza de não seremos abandonados pelo caminho, que seremos preservados até o fim. Se nós crentes nos atrevemos a dizer, como na verdade o fazemos, que ao morrer vamos para o céu e que estamos seguros da salvação final, não é porque cremos que somos justos, nem porque somos fortes, nem auto-suficientes, mas, pelo contrário, porque confiamos no amor inalterável de Deus, no amor que jamais poderá nos desamparar.


Esse texto foi retirado do blog do meu amigo (um verdadeiro irmão) Isaías, ele foi republicado semana passada quando seu pai faleceu.

"Meu irmão Isaías, hoje (27 de maio), estou meio orfão também!"
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[1] Conforme publicado no livro de John Stott, A Cruz de Cristo. Editora Vida.